Dispara número de sites que comercializam produtos médicos ilícitos para combater a covid-19. Interpol, Europol e PSP lançam alerta sobre perigos de comprar vacinas online.
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A pouco mais de uma semana do início da vacinação contra a covid-19 em Portugal e na Europa surgem cada vez mais anúncios de vacinas falsificadas à venda na Internet. Um estudo da Checkpoint Research, empresa internacional especializada em cibersegurança e uma referência no setor da informática reconhecida até pelas autoridades policiais, identificou anúncios que prometem vacinas por cerca de 300 euros. Num relatório agora divulgado revela também que, só em novembro, foram registados 1062 domínios (que dão acesso a páginas que podem ser consultadas) com a palavra vacina. O documento chama ainda a atenção para campanhas de phishing (roubo de dados informáticos) sustentadas na pandemia.
O perigo é tanto, que a Interpol, a Europol e a Agência Europeia do Medicamento (AEM) lançaram alertas sobre as ameaças da compra online de medicamentos para tratar a covid-19. As autoridades portuguesas não registaram qualquer fraude relacionada com a ambicionada vacina, mas o Infarmed reforçou os apelos da AME e a PSP avisou a população de que a vacinação decorrerá somente através do Sistema Nacional de Saúde (SNS).
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A investigação da Checkpoint Research localizou vários sites, alojados na Darknet - uma Internet alternativa usada por criminosos - a vender vacinas contra a covid-19. Num deles, o vendedor pedia uma quantia a rondar os 300 euros por 14 doses, o que, desde logo, contraria a informação médica conhecida, que aponta para a necessidade de cada pessoa tomar duas doses. Noutro, o vendedor apresentava-se como um farmacêutico com acesso ao stock de uma empresa que irá produzir vacinas contra a covid-19. Comunicava com os clientes através de WhatsApp e Telegram, aplicações de encriptação de mensagens, e só fazia negócios em Espanha, Reino Unido e Estados Unidos da América. Os dois traficantes de vacinas contra a covid-19 exigiam o pagamento em bitcoins, uma moeda digital que não é possível rastrear.
"Encontrámos um fluxo grande de mensagens na Darknet a publicitar a venda de uma vasta gama de vacinas e medicamentos contra o coronavírus", lê-se no relatório divulgado pela Checkpoint Research. O mesmo que mostra que, só em novembro, foram registados 1062 domínios de Internet que contém a palavra vacina. 400 destas páginas virtuais também ostentam em título a palavra covid ou corona.
"Não acreditem"
Preocupados com este fenómeno estão o Infarmed e a PSP. "Não acreditem nas vacinas que são vendidas na Internet", avisou a Polícia num alerta feito no início do mês. A comissária Rita Henriques explicou, à TSF, que a vacina só será disponibilizada em Portugal pelos canais oficiais, ou seja, pelo SNS. E pediu que as suspeitas de fraude sejam denunciadas. A Polícia Judiciária, que tem competência exclusiva da investigação do cibercrime, não respondeu às questões colocadas pelo JN, mas outras fontes policiais garantem que ainda não foi sinalizado qualquer caso de compra ou venda de vacinas falsificadas.
Já a Interpol avisou as autoridades de 194 países para a necessidade de combaterem organizações dedicadas à venda de vacinas contrafeitas. "As redes criminosas terão como alvo membros insuspeitos do público através de sites falsos e de falsas curas, que podem representar um risco significativo para a sua saúde e mesmo para as suas vidas", referiu Jürgen Stock, secretário-geral da Interpol que, através da Unidade de Cibercrime, identificou três mil sites associados a farmácias e à venda de medicamentos ilícitos.
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Frascos roubados
"Já há casos de anúncios de vacinas na Darknet, que usam as marcas de companhias farmacêuticas genuínas, que estão na fase final de testes de vacinas legítimas. Estas vacinas contrafeitas podem colocar em risco a saúde pública, porque são produzidas em laboratórios que não cumprem os critérios higiénicos exigidos. As vacinas falsificadas poderão circular em mercados ilícitos ou serem introduzidas no mercado de distribuição legal", advoga, por sua vez, a Europol. A Polícia europeia está convencida de que assim que uma vacina seja aprovada pela AEM versões contrafeitas começarão a circular rapidamente nos diversos mercados. Algumas organizações criminosas poderão, inclusive, roubar frascos vazios usados pelas farmacêuticas para os reabastecer com substâncias ilegais.
A Checkpoint Research chama, por fim, a atenção para um relatório da Microsoft que identifica vários ataques cibernéticos que tentaram roubar dados às principais farmacêuticas mundiais. Conclui que estas são as primeiras de muitas tentativas de crimes que visarão cidadãos e organizações.
Autoridade Tributária apreendeu 31 mil doses de medicamentos
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Em Portugal ainda não foram sinalizadas vacinas falsificadas contra a covid-19. Contudo, a Autoridade Tributária (AT) apreendeu, entre março e setembro deste ano, de 31 mil doses de medicamentos, incluindo analgésicos, antivirais, anti-histamínicos, ansiolíticos e medicamentos para disfunção erétil. "Dentro das apreensões efetuadas, destaca-se o caso do Tadalafil, cuja substância ativa se encontra autorizada na União Europeia para diversas indicações, entre elas a hipertensão pulmonar arterial, tornando-se, por essa razão, bastante popular no contexto atual de epidemia covid-19", refere a AT. Esta entidade acrescenta que a pandemia potenciou "o aumento do tráfico desta substância" e obrigou "à necessidade de estabelecer mecanismos de controlo".
Estas apreensões foram concretizadas no âmbito de uma operação internacional batizada "Shield", contra o tráfico de substâncias dopantes e de medicamentos contrafeitos ou comercializados fora do circuito legal. Em 27 países, foram apreendidos mais de 25 milhões de doses, avaliadas em cerca de 73 milhões de euros. Foram desmantelados dez laboratórios clandestinos, detidas 667 elementos de 25 grupos criminosos, e encerrados 453 sites de venda.