O Tribunal do Porto acaba de condenar 22 arguidos a penas de prisão entre um e 11 anos de prisão, por centenas de crimes de furto qualificado, roubo e falsificação de documentos, entre outros. O gangue tinha como alvos preferenciais máquinas de tabaco e automóveis de gama alta. O principal arguido, de 25 anos, foi condenado por 119 crimes.
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Em apenas sete meses, entre abril e novembro de 2018, os assaltantes, com idades entre 24 e 66 anos, realizaram centenas de crimes, destacando-se os furtos qualificados a máquinas de tabaco, sobretudo em cafés, e stands de automóveis, mas também roubos e assaltos a residências. O grupo não era propriamente estruturado, mas atuava com o mesmo objetivo criminoso e de modo pulverizado: todos colaboravam entre si.
"Prefiro acartar carros"
Os assaltantes viajavam em viaturas roubadas, nas quais punham matrículas falsas, e tinham um raio de ação alargado: Aveiro, Braga, Vila Real e, principalmente, o Distrito do Porto. Atuavam de madrugada, em pequenos grupos de quatro ou cinco elementos, e numa única saída chegavam a atacar cinco ou seis estabelecimentos comerciais. Os preferidos eram os cafés, as pastelarias e os postos de abastecimento de combustíveis.
2500 euros é o preço médio de uma máquina de tabaco. No interior pode ter outro tanto em maços. Os assaltantes vendiam cada maço roubado por 2,5 euros.
Segundo o Tribunal do Porto, o método era basicamente o mesmo: os assaltantes entravam por via de arrombamento e rapidamente limpavam caixas registadoras e atacavam as máquinas de tabaco. Estroncavam-nas no local ou, então, levavam-nas para abrir noutro local. Depois, contactavam o recetador, a quem vendiam cada maço furtado por 2,5 euros.
A dado momento, o núcleo duro do gangue começou a mudar de estratégia e a atacar stands de automóveis e veículos estacionados na via pública. Numa escuta de agosto, um arguido explica a opção: "Prefiro andar a acartar carros do que andar a acartar máquinas [de tabaco]", afirmou Diogo Oliveira, um dos principais elementos do grupo.
Prisão efetiva para oito
A 20 de novembro uma mega operação do Núcleo de Investigação Criminal da GNR de Gaia, envolvendo 180 militares, efetuou 78 buscas, deteve 17 elementos e desmantelou o grupo. Foram constituídos 36 arguidos, sendo que, a 8 de março deste ano, o Tribunal do Porto condenou 22. Grande parte deles tinha antecedentes criminais e alguns até estavam cumprir penas de prisão, por crimes semelhantes.
O acórdão salientou a "quantidade enorme" de assaltos, mas teve em conta que a grande maioria dos crimes não envolveu violência. Muitas vezes, quando se apercebiam da chegada de pessoas, desistiam do assalto. Daí que, dos 22 arguidos, só oito receberam penas superiores a cinco anos e, portanto, de prisão efetiva.
Entre estes, destacam-se Diogo Oliveira, com 11 anos de prisão por 119 crimes, maioritariamente de furto qualificado, e João Neves, de 66 anos, condenado a cinco anos e meio de prisão, por 20 crimes de recetação. Os outros 14 ficaram com penas suspensas.
Mania dos carros
"Fúria" à vez
Um dos carros mais usados pelo grupo nos roubos era um BMW série 6, a que chamavam "Fúria". O potente veículo mudava frequentemente de mãos e quem o queria usar para "saídas" tinha de marcar vez junto do núcleo duro.
Lavagem fatal
Num assalto a um restaurante de Oliveira de Azeméis, foi furtado um Ford Ka. O carro seria apreendido três dias depois, no Parque Nascente, em Rio Tinto, onde um ladrão o deixara para ser lavado. Quando voltou para o levantar, já lá estava polícia. O suspeito conseguiu fugir.
Dava nas vistas
Um dos veículos mais apreciados do grupo era um Audi A7. Ao telefone, os arguidos discutiam sobre quem podia conduzi-lo ."Não é para andar dia a dia (...). Aonde aquilo passa, toda a gente olha. Ainda vamos é ficar sem ele", receavam. Mas o A7 nunca foi recuperado.
"Já foi, moço"
Um dos carros roubados foi um Porsche Cayenne. Numa escuta, Diogo Oliveira conta que, ao dirigir-se ao carro, a polícia estava à volta dele e teve de "correr" com a mulher. "O nosso melhor já foi moço", lamentou.