O irmão do jovem nigeriano assassinado em abril de 2024 num alojamento local do Bonfim, no Porto, diz que "a família ficou destruída" e os pais "foram-se totalmente abaixo". Souberam da morte de Rawlins, 22 anos, através de um jornal online e contactaram a embaixada que confirmou o óbito. Agora, pedem justiça.
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Até ao crime, Gerald e a família nunca tinham ouvido falar de Austine, o principal suspeito do assassinato que se encontra a ser julgado no Tribunal de São João Novo, no Porto. Segundo a acusação, Rawlins foi morto pelo amigo com quem manteria uma relação homossexual. À distância, Gerald garante que a morte do jovem partiu a família e que, agora, "só querem que seja feita justiça".
“A minha família está desfeita”, reforçou Gerald, esta manhã de terça-feira, através de videoconferência. “Os meus pais ficaram completamente transtornados e em baixo. Foi um choque com muita dor. O meu pai deixou de trabalhar e teve de fazer terapia e a minha mãe esteve de baixa”, contou o irmão da vítima.
Amigo viu notícia do crime e alertou família
Gerald disse que um amigo de Rawlins descobriu num jornal online que um nigeriano matara outro em Portugal. “Enviou-nos a fotografia da notícia por Instagram e disse que não sabia mais nada deles desde que tinham vindo para Portugal. Tinha medo que fossem eles”. Gerald e a família, que já não tinham notícias de Rawlins desde que este viera para Portugal, contactaram a embaixada que lhes confirmou a identidade da vítima.
O irmão explicou que Rawlins tinha emigrado para a Ucrânia em 2018. Com o eclodir da guerra mudou-se com uns amigos para a Alemanha onde, em 2023, se formou em engenharia marítima. Estava a trabalhar regularmente e já enviava dinheiro para os irmãos mais novos na Nigéria. Rawlins explicou à família que pretendia estabelecer-se em Portugal e por isso a viagem seria para ver como era o país e procurar oportunidades de trabalho. “Disse que vinha com um amigo, mas não sabíamos quem era”, disse Gerald.
Pesquisou qual a melhor faca para cortar o pescoço a alguém
O amigo de Rawlins, Austine Benson, é o principal suspeito da sua violenta morte. A acusação acredita que os dois nigerianos mantinham uma relação amorosa. Por algum motivo, Austine decidiu e planeou matar o amante. As perícias revelam que, dois dias antes do crime, pesquisou no telemóvel "qual a melhor faca para cortar o pescoço a alguém", "qual a melhor maneira de se desfazer de um corpo" ou "onde comprar ácido sulfúrico perto de mim". Na véspera do crime, comprou um só bilhete de regresso à Holanda.
Rawlins terá sido morto com extrema violência no alojamento local no Bonfim, onde estava alojado com Austine. Foi "um cenário de horror dantesco", descreveu a inspetora da PJ que tomou conta da ocorrência. A arma do crime foi uma faca de serrilha, "a típica faca do pão", que ficou com a lâmina entortada da violência usada.
O arguido terá tentado cortar a cabeça da vítima e jorrou sangue por todo o lado. "Não havia um objeto - nada, nada - sem sangue", afirmou a inspetora. Após o crime apanhou um TVDE para o aeroporto, mas, após contar o que tinha feito e ter pedido ajuda ao motorista para deitar o corpo de Rawlins ao rio Douro, aquele levou-o até à esquadra da Corujeira, em Campanhã, onde foi detido.
No início do julgamento, Austine confessou o crime, mas alegou legítima defesa. Disse que fora o amigo a atacá-lo com a faca e que apenas se defendeu. "Era ele ou eu", explicou.
Advogado quer ver imagens de segunda câmara de videovigilância
A sessão desta terça-feira ficou ainda marcada pelo pedido do advogado de Austine em visualizar as imagens de uma segunda câmara de videovigilância. A inspetora da PJ havia dito que aquelas imagens tinham sido visualizadas, mas que nada de relevante fora encontrado. "Porém, uma vez que no processo não existe qualquer auto de visualização ou declarações sobre esse visionamento", Miguel Martins requereu que as mesmas fossem vistas em tribunal, uma vez que estas poderão comprovar que o seu cliente foi ao primeiro andar do edifício para tentar pedir ajuda.
O Ministério Público e a advogada da família da vítima opuseram-se, mas a juíza aceitou o pedido. Foi enviado um ofício à PJ para juntar aos autos as gravações da segunda câmara de filmar que, alegadamente, captará as imagens das escadas em direção ao primeiro andar.