Idosa da Maia sobrevive a esfaqueamento, estrangulamento e tentativa de envenenamento. "Burnout" por falta de apoio na origem da tragédia.
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Um homem, de 59 anos, tentou matar a mãe, de 96, com um "cocktail" de medicamentos, depois à facada e, por fim, por estrangulamento. Quando pensava que a idosa já estava morta, subiu ao terraço do prédio onde ambos residiam, na Maia, e atirou-se de um quinto andar. O filho morreu, a nonagenária sobreviveu e, embora internada no Hospital São João, no Porto, está livre de perigo.
A tentativa de homicídio seguida de suicídio ocorreu na sexta-feira, num cenário, suspeitam as autoridades, de esgotamento psicológico, causado por falta de apoio institucional, ao longo de vários anos, a um cuidador informal.
Mãe e filho viviam num andar do rés do chão, de um prédio localizado no centro da cidade da Maia. Quase centenária, a idosa mantém alguma mobilidade, mas necessitava do auxílio do filho para muitas das suas rotinas diárias.
Desempregado há vários anos, era este que, por exemplo, lhe garantia as refeições, a toma de medicamentos e lhe prestava os cuidados de higiene. Tarefas que repetia todos os dias, sete dias por semana, sem apoio de entidades sociais.
Sem registo de violência
A PSP nunca tinha registado qualquer episódio de violência doméstica no seio desta família, até anteontem, quando uma patrulha foi acionada para um caso de tentativa de homicídio seguido de suicídio.
Tudo terá começado quando, ao início dessa tarde, um outro filho da idosa se dirigiu à Maia com o intuito de levar a mãe para a sua habitação, durante as festas de Natal. Esta, contudo, recusou abandonar a residência habitual, deixando o seu cuidador, que esperava ter uns dias de descanso durante as próximas festividades, frustrado e irritado.
Pouco depois, já sozinhos no apartamento, um motivo fútil originou uma discussão entre mãe e filho, que terminou em tragédia. Em primeiro lugar, o cuidador tentou que a nonagenária ingerisse uma bebida com vários medicamentos, mas a idosa rejeitou. Depois, esfaqueou-a no pescoço, mas perante a resistência da vítima, estrangulou-a. Nesta altura, a idosa terá desmaiado, levando o filho a acreditar que estava morta.
Quase de seguida, o cuidador subiu ao terraço do prédio e ali permaneceu quase uma hora, antes de decidir atirar-se de uma altura de cinco andares. O impacto no chão revelou-se fatal.
Apoio
Decreto aprovado
A tragédia da Maia aconteceu no dia seguinte a o Conselho de Ministros ter aprovado o decreto regulamentar que reconhece o estatuto do cuidador informal. Foram ainda aprovadas medidas como o descanso do cuidador, através da colocação do utente em unidades de cuidados continuados, ou o subsídio de apoio.
Faltam meios
"Faltam unidades de cuidados continuados e técnicos que possam tratar do utente na sua habitação", avisa Maria dos Anjos Catapirra, vice-presidente da Associação Nacional de Cuidadores Informais.