Uma mulher de 48 anos e o filho de 26 anos foram absolvidos esta tarde de quinta-feira de dezenas de crimes de escravidão, sequestro, coação e burla. Estavam acusados de, entre 2011 e 2016, terem aliciado 19 trabalhadores a ir trabalhar para Espanha, acabando por sujeitá-los a "condições degradantes".
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Em abril de 2023, Valdemar, marido e pai dos dois arguidos, fora condenado a 12 anos de prisão por 12 crimes de tráfico de pessoas. A mulher, declarada contumaz, e o filho tinham sido igualmente acusados pelo Ministério Público, mas ficaram com processos autónomos na fase de instrução. Esta tarde, no Tribunal de S. João Novo, no Porto, os dois foram absolvidos por falta de provas.
Em julgamento, Guilhermina tinha explicado que só fazia o que o ex-marido lhe mandava fazer. "Eu era uma vítima dele", assegurou a mulher de 48 anos. Momentos antes, o advogado dos arguidos já tinha defendido que ambos eram "vítimas" e não criminosos. Aliás, João Peres lembrou a idade de Valdemar (filho) na altura dos factos. "Começou a ser criminosos aos 13 anos", ironizou o advogado.
A mulher disse que sabia que o marido vinha buscar trabalhadores a Portugal, mas negou que fossem maltratados. "Nunca vi nada fora de anormal", assegurou, garantindo que eles tinham os documentos e podiam circular livremente. Dormiam em casas "velhas mas limpas" e as arcas frigoríficas estavam cheias de carnes e pão. E ainda explicou que não contactou muito com os trabalhadores porque o marido era muito ciumento e a proibía de falar com eles. Também o filho negou saber de quaisquer ilegalidades, lembrando que então era um adolescente e que ainda estava a estudar.
A acusação do Ministério Público sustentava que Guilhermina e o filho tinham enganado 19 pessoas em situação de fragilidade cognitiva e social de Trás-Os-Montes com falsas promessas de emprego em Espanha, para depois os sujeitar a "condições degradantes". Eram obrigados a comer pão duro e carne podre, a dormir em pocilgas e currais sem condições de higiene e a trabalhar do nascer ao pôr do sol, sete dias por semana. Para o Tribunal não houve provas do envolvimento de mãe e filho pelo que foram ambos absolvidos.