Acusada de centenas de burlas cometeu todos os crimes "enquanto estava drogada"
Uma mulher acusada de centenas de crimes de burla assumiu, nesta quarta-feira, no Tribunal de São João Novo, no Porto, grande parte dos factos pelos quais vinha acusada. Alexandra B., 43 anos, explicou que os crimes foram cometidos enquanto consumia drogas, mostrou-se arrependida e pediu perdão.
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Segundo a acusação, ao longo de quatro anos, os nove arguidos deste processo terão lucrado cerca de 188 mil euros à conta de dezenas de vítimas. Um dos arguidos obteve ilicitamente informações das operadoras de telecomunicações. Graças a esses dados, Alexandra conseguiu montar um esquema para roubar as identidades das vítimas. Requeria segundas vias de cartões telefónicos e, depois, obtinha acesso às aplicações de “homebanking” e às contas bancárias das vítimas.
Esta manhã, a principal arguida do processo assumiu as burlas eletrónicas, mas assegurou que nunca furtou cartões físicos. “Os crimes foram cometidos numa época em que fazia consumos de droga extremamente elevados. Nunca cometi um crime sem estar drogada porque tinha pânico. Drogada, o medo desaparecia, o perigo desaparecia”, confessou Alexandra.
A arguida contou que chegou a auferir mais de 3 mil euros mensais com a venda de equipamento estético. Com o consumo de droga, deixou de trabalhar e ficou sem dinheiro.
“Enganei-os a todos com mentiras”
Alexandra garantiu que a mãe, o pai, a irmã e a prima - todos arguidos - não sabiam do plano. "Estão aqui sem culpa. Enganei-os a todos com mentiras", admitiu, explicando que pedia para usar os telemóveis deles e que criou emails em seu nome, sem o seu conhecimento. Também lhes pedia para receberem transferência nas suas contas, alegando que não queria pagar impostos.
Alexandra disse que os únicos coautores dos crimes eram dois ex-namorados e um terceiro homem que lhe arranjou as bases de dados de clientes de operadores de telecomunicações. Duarte, Ricardo e Hugo: todos sabiam como aparecia o dinheiro, que "era dividido irmãmente”, e chegavam a participar quando era necessária uma voz masculina.
"Tenho a consciência de que posso ter tirado dinheiro a alguém que precisava de dar comida aos filhos ou pagar a renda. Queria pedir desculpa a todos os ofendidos. Eu não tenho um tostão, se não dava tudo", assegurou Alexandra, comovida, enquanto chorava.
A arguida explicou que foi Hugo quem lhe deu a base de dados de clientes. Isso permitiu-lhe obter segundas vias de cartões de telemóvel. "Ele até me dizia: este tem dinheiro, este não", frisou. Com alguns dados da vítima, obtinha outros e, depois, com toda a informação conseguia aceder às contas de homebanking das vítimas e transferir quantias para contas bancárias e cartões de crédito que controlava.
Questionada sobre a existências de várias cartas fechadas, com moradas de ruas próximas da sua, encontradas em casa, Alexandra explicou que não era ela que as furtava. Começou a circular a informação sobre a maneira como arranjava dinheiro. “Havia muita gente que entrava na minha casa e me queria ajudar e trazia-me cartas por achar que eu podia fazer qualquer coisa e partilhar com elas”, afirmou.
Um dos ex-namorados contraditou parte das declarações de Alexandra. “Todos sabiam, claro que sabiam”, afirmou Duarte, 47 anos, assegurando que viu cartões em nome do pai, da mãe e da irmã da ex-namorada e que chegou a levar dinheiro a casa da mãe dela.
Duarte assumiu que chegou a fazer telefonemas nos casos em que a vítima era um homem. Disse ainda que efetuou um carjacking em Gaia, a uma senhora, perto do Hospital de Gaia. "Dei os cartões à Alexandra e fiquei com o pouco dinheiro que ela tinha", confessou. O arguido disse ainda que ficava no carro enquanto Alexandra furtava correspondência. “Ela é que fazia e desfazia. Eu usufruía”, apontou.