Advogado diz que usou nome de ex-autarca para sacar dinheiro a promotores imobiliários
O advogado suspeito de ter entregado milhares de euros de dois promotores imobiliários seus clientes ao ex-vice-presidente da câmara de Gaia, como pagamento de favores urbanísticos, declarou esta quarta-feira em tribunal que "esse dinheiro" era para si. Disse que criou nos clientes um "equívoco".
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João Lopes, o advogado gaiense em prisão domiciliária desde maio de 2023, no processo "Operação Babel", confessou que recebeu 25 mil euros dos empresários, também arguidos, Paulo Malafaia e Elad Dror, aceitando que, para o efeito, terá usado o nome do ex-vice-presidente.
"Recebi o dinheiro no gabinete da Fortera [do arguido Elad Dror]", disse, alegando que deu então a entender aos promotores que a maquia era para Patrocínio Azevedo, mas, afinal, era para si. Essas "luvas" de 25 mil, acrescidas de outro tanto, que mais tarde que lhe foram entregues nos sanitários do NorteShoping, o arguido considerou-as como pagamento pelo seu empenho no projeto "Riverside" - construção de um centro de congresso, centro cultural e hotel, obra cujo valor rondaria os 300 milhões.
Para o ex-vice, "nem um tusto furado"
Durante as suas declarações, João Lopes admitiu, várias vezes, ter usado o nome de Patrocínio, enfatizando uma alegada influência junto do autarca que, na altura, tinha o pelouro do urbanismo. Tudo para impressionar os promotores. Um dos juízes do coletivo questionou-o: "Em que medida tem de pedir desculpas [a Patrocínio]?
João Lopes foi célere: "Peço desculpa ao senhor engenheiro porque da acusação resulta que eu lhe entreguei o dinheiro, mas a verdade é que foi para mim. Para ele nem um tusto furado".
Em anterior sessão, quando Patrocínio foi questionado sobre escutas e mensagens, de terceiros, que deixavam entender que Lopes pedia aos promotores dinheiro para si, o ex-autarca exclamou: "É de gente sem caráter".
O julgamento continua na próxima semana, ainda com João Lopes a "explicar" o seu papel. Este arguido poderá ser a peça-chave para do processo, que tem 16 arguidos - seis pessoas singulares e dez empresas -, dois dos quais em prisão preventiva.