Os advogados Carlos Barbosa da Cruz e Tito Arantes Fontes e o jornalista Eduardo Dâmaso defenderam, esta quinta-feira, no Tribunal do Bolhão, no Porto, que a palavra "bandido", usada em 2020 pelo presidente do Sporting para atacar o ex-líder portista Pinto da Costa correspondia a uma “perceção” pública generalizada.
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Em 2020, em reação a uma entrevista de Pinto da Costa, falecido a 15 de fevereiro deste ano, Frederico Varandas afirmou que aquele “pode ter um grande sentido de humor, ser culturalmente acima da média, ter um currículo cheio de vitórias, mas um bandido será sempre um bandido. No final será recordado como um bandido”, disse.
Carlos Barbosa da Cruz, testemunha de Varandas, lembrou hoje que este disse o que disse após o líder portista o acusar de ganhar com o ataque da Juve Leo na Academia do Sporting. “Eleger o Dr. Varandas como beneficiário dos acontecimentos de Alcochete é provocatório”, justificou, referindo que Pinto da Costa “tinha um prazer especial em imiscuir-se na vida de outros clubes”. Além disso, Barbosa da Cruz invocou também o “juízo negativo” sobre as escutas do processo “Apito Dourado”.
Já Tito Arantes Fontes sustentou que Pinto da Costa quis “menosprezar o Sporting”. Disse também que ouviu as escutas do “Apito Dourado” e que estas, embora não validadas juridicamente, “comprovavam o poder do F. C. P. junto da arbitragem”. “A arbitragem era condicionada a um clube [sic]. A Carolina Salgado [ex-companheira de Pinto da Costa] dizia que os árbitros eram visitas da casa, onde iam receber dinheiro e serviços de prostituição”, assinalou.
Villas-Boas elogiado
Já o jornalista Eduardo Dâmaso, diretor-geral adjunto da Medialivre (dona do "Correio da Manhã") e outra testemunha de Varandas, disse que a declaração deste sobre Pinto da Costa correspondeu a uma “perceção comum”. Por outro lado, considerou que Varandas tem lutado “contra a corrupção desportiva”. “A forma como devolveu a normalidade ao clube é notável. Teve a coragem de ter dito o que disse”, concluiu, observando que “o que André Villas-Boas [sucessor de Pinto da Costa] tem tentado fazer no F. C. P. também é assinalável”.
Esta quinta-feira foi a última vez que, no âmbito deste processo, Frederico Varandas foi ao Tribunal do Bolhão, onde está a ser julgado por alegada difamação, uma vez que foi dispensado de comparecer na próxima sessão, agendada para junho, reservada às alegações finais, assim como no dia da leitura da sentença, que vai assistir à distância, em Lisboa, onde chegou a desejar ser julgado, alegando que as declarações alegadamente difamatórias tinham sido prestadas na capital e que era aí que deveriam ser escrutinadas.
No final da audiência desta quinta-feira, a juíza questionou Frederico Varandas se queria prestar declarações, mas este, à semelhança do que já havia manifestado, disse que pretendia não falar. Na primeira sessão de julgamento, recorde-se, o líder do Sporting limitou-se a dizer que respeitava o trabalho da Justiça e que, por então, nada mais tinha a dizer. Hoje, prestou, ainda assim, declarações sobre a sua situação pessoal. Disse que era médico militar, que tinha um rendimento anual bruto de 300 mil euros e que vivia em casa própria, além de ser casado e ter dois filhos, entre outras questões.
Pinto da Costa nunca chegou a ir ao julgamento
Na primeira sessão do julgamento, a 11 de fevereiro, o queixoso, Pinto da Costa, esteve ausente, por motivos de saúde. Com a morte do ex-líder portista, quatro dias depois, Cláudia Campos, a mulher que casou com Pinto da Costa, decidiu constituir-se assistente e manter o processo por difamação contra Varandas.
Além das três testemunhas ouvidas esta quinta-feira, prestaram depoimento neste julgamento outras personalidades. Do lado da acusação, a primeira a falar foi o ex-presidente da Assembleia-Geral do F. C. do Porto, José Manuel Matos Fernandes. “A ideia que eu tinha era que [Varandas] era uma pessoa civilizada. Achei estranhíssimo que tivesse aquele deslize línguístico. É um insulto do pior”, sustentou o juiz conselheiro jubilado.
Já o então diretor-geral do Porto Canal, Manuel Tavares, recordou que as declarações tiveram bastante eco na imprensa. “Uma coisa é ser agressivo, outra é chamar bandido”, criticou. Opinião semelhante manifestou o gestor de média e ex-diretor do "Jornal de Notícias", Domingos de Andrade, que lembrou que, “na altura”, aquelas palavras geraram “muita polémica”. “Todas as declarações que um presidente de um clube profira tem amplitude”, declarou.
Em sentido inverso, João Palma, presidente da Assembleia-Geral do Sporting, disse que Varandas reagiu a Pinto da Costa por este dizer que aquele beneficiara do ataque à Academia de Alcochete. “Eu não sei se Pinto da Costa é inteligente, mas é esperto. E muito irónico. Sempre foi assim, provocador. E depois vitimiza-se”, disse o também magistrado.
Já Francisco Salgado Zenha, da Sporting SAD, considerou que se tratou de uma “contrarresposta”. E Miguel Braga, à data diretor de comunicação leonino, classificou as declarações como “marcantes”, mas “consequência do que se passava na altura”.