Divisão de Segurança Aeroportuária da PSP do Porto desfalcada com reforço do contingente do SEF. Polícias espanhóis em viagem ajudaram a controlar passageiro.
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Está instalado o caos no policiamento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro, na Maia. Numa "depauperada" Divisão de Segurança Aeroportuária do Porto, o desvio de agentes para reforçar o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras levou a que "já tenha havido turnos em que o policiamento em todo o aeroporto foi assegurado por três ou quatro agentes", declarou ao JN o presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia (ASPP/PSP), Paulo Santos.
Um polícia que presta serviço no aeroporto - onde têm passado, este verão, cerca de 70 mil passageiros por dia - ilustra o cenário de escassez de meios com um episódio registado há cerca de dois meses, que obrigou dois colegas seus a receber tratamento hospitalar e que os mantém de baixa médica. "Foi ridículo. Um passageiro estava exaltado e, ao lado, encontravam-se alguns polícias espanhóis, de regresso ao seu país, que o acalmaram. Quando a PSP chegou, já os colegas espanhóis tinham partido e houve dificuldade em dominar o passageiro. A situação teria sido controlada em dois ou três minutos com uma equipa de intervenção rápida, mas não havia elementos para a formar", conta o agente.
Videovigilância
O número de agentes por turno é tão baixo que "já houve necessidade de desviar o elemento de serviço à videovigilância, o que nunca deveria acontecer", diz o agente. "É confrangedor, por exemplo, no regresso de claques de futebol, andarmos dois agentes no meio de centenas de adeptos".
O JN sabe que também já houve agentes desviados da Esquadra do Infante para o aeroporto numa altura em que aquela encerrava por falta de efetivos.
A falta de policiamento "é gritante em todos os aeroportos, mas mais notada no Porto, cuja Divisão já estava nas lonas", aponta o presidente da ASPP.
Polícias limitados
Para reforçar o SEF, foram destacados agentes de outras esquadras do Comando do Porto. "Mas, não tendo o Curso de Segurança Aeroportuária, o cartão que a ANA dá, o Branco, só lhes permite andar nas instalações com um funcionário da ANA. Aliás, eles nem conhecem os corredores técnicos do aeroporto. Se abrem uma porta que não devem, os alarmes disparam e temos de evacuar toda aquela área", refere o polícia. E se uma ocorrência obriga a chamar reforços, conta, "demoram meia hora para ter os cartões de acesso".
A ASPP continua "sem perceber como foram avaliadas as necessidades do SEF", num aeroporto com poucos voos externos ao Espaço Schengen. De resto, observa Paulo Santos, "têm sido colocados lá inspetores de Braga, a ganhar ajudas de custo diárias".
Para agravar a desmotivação dos poucos agentes da Segurança Aeroportuária, que chegam a trabalhar oito dias seguidos, os colegas de reforço ao SEF "têm outros horários e até conseguem gozar folgas compensatórias", compara.
Sobre os problemas referidos, a PSP comentou apenas que a capacidade operacional da divisão aeroportuária está "assegurada" (ler "Contraditório").
Ministro questionado sobre esquadras de Gaia com um único polícia
A Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP), que é presidida por Paulo Santos, emitiu ontem um comunicado sobre "a falta de efetivo na PSP" e com perguntas para o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro. "Por que razão as esquadras continuam com apenas um elemento de serviço no turno 00h00/08h00, como aconteceu, por exemplo, em todas as esquadras da Divisão de Vila Nova de Gaia, no dia 16/09/2022?", afirma, na segunda de oito perguntas. A concluir o comunicado, a ASPP diz que o problema "não é só a falta de efetivo, mas um efetivo envelhecido, a necessidade de rejuvenescimento, de profissionais motivados, dignificados". Nesse sentido, apela à "dignificação salarial, melhoria das condições de trabalho". "Tal certamente aumentará o número de candidatos, manterá os profissionais e consequentemente rejuvenescerá o efetivo, traduzindo-se em maior capacidade operacional e maior dinâmica", defende a ASPP.
Contraditório
Resposta vaga
A uma dezena de perguntas do JN sobre o aeroporto, o Comando Metropolitano do Porto da PSP respondeu, em três breves pontos, sem esclarecimentos concretos.
Operacionalidade
No primeiro ponto, a PSP diz que "faz uma gestão integrada e flexível de todos os seus recursos, pelo que a capacidade operacional da referida subunidade - Divisão de Segurança Aeroportuária - está sempre assegurada".
Meios disponíveis
Por outro lado, a PSP diz que não divulga "números exatos dos recursos disponíveis, uma vez que todos os meios estão à disposição do Comando em particular e da PSP no geral".