O Tribunal de Braga começa a julgar, nesta segunda-feira, um suposto empresário de futebol da cidade, que terá burlado cinco jovens futebolistas, com falsas promessas de trabalho, cobrando-lhes 15.395 euros.
Corpo do artigo
Luís Gonzaga, de 49 anos, de nacionalidade angolana, está acusado de 11 crimes: burla qualificada, falsificação de documento (três), usurpação de funções, auxílio à imigração ilegal, e burla relativa a trabalho e emprego (cinco).
A acusação diz que o primeiro jovem a ser burlado foi um cidadão luso-francês, de nome Allan, hoje com 24 anos, e que em 2020 residia em França, sendo taxista e futebolista amador. E que tinha o sonho de se tornar profissional.
Através de uma familiar em Portugal, que lhe disse que o podia ajudar a encontrar um clube em Portugal, através de um agente conhecido por ser ex-jogador profissional e organizar jogos em Braga para aspirantes a profissionais, que eram vistos por "olheiros" de clubes.
Allan encontrou-se com o empresário, tendo começado a viajar para Portugal aos fins de semana. Após alguns treinos, o arguido terá concluído que não tinha a qualidade necessária para ser contratado como profissional. Apesar disso, “para o manter iludido”, segundo a acusação, disse-lhe que estava impressionado com as suas qualidades, pelo que o iria ajudar, tendo-o desafiado a treinar num clube em Vieira do Minho. A alegada vítima terá aceitado, mas apercebeu-se que era um clube amador, inferior aquele onde jogava em França.
Como o clube não podia pagar nada, Alan terá dito ao arguido que não podia abandonar o trabalho em França, mas Luíz Gonzaga ter-lhe-á explicado que o poderia colocar, se pagasse, num clube como o Vitória de Guimarães, o Desportivo de Fafe e o Varzim Sport Clube, onde tinha contactos.
Dias depois, disse-lhe que o colocaria a treinar no Varzim, - que militava na Liga 2 Sabseg - com a condição de entregar 12 mil euros . Para pagar esta verba, a vítima vendeu uma mota e enviou cinco mil euros ao arguido, referindo que pagaria o resto quando começasse a jogar. Luís Gonzaga insistiu para que desse mais mil ou dois mil euros, tendo Allan entregue mais mil, quando veio para Portugal, com a promessa de que iria para o Varzim.
No entanto, e como apanhou covid-19, esteve confinado por duas semanas. Mais tarde, o arguido convidou-o para um hotel de Braga para assinar o contrato, o que fez, na companhia do pai, embora estranhando que o ato não decorresse no clube. O contrato era, diz a acusação. falso, apesar de ter carimbo.
Acabou por ir treinar para a equipa B, mas sem os mesmos direitos dos colegas, pelo que pediu explicações ao treinador e dirigiu-se ao Sindicato dos Jogadores, perguntando se o seu contrato era válido. Ficou, então, a saber que não se encontrava registado na Liga Portuguesa de Futebol Profissional. E protestou com o arguido, mas voltou a França sem o dinheiro
Outras vítimas no Brasil
A acusação diz, ainda, que Luís Gonzaga atuou em conluio com três empresários no Brasil – que o MP não conseguiu encontrar – e que terão aliciado quatro outros jovens atletas, prometendo-lhes salário de 950 a mil euros mensais. Para tal, entregavam-lhes verbas que iam dos 1500 a 2.500 euros mensais.
Chegados a Portugal, por vezes sem ninguém à espera no aeroporto do Porto, eram "enfiados" num hostel de Braga à espera de treinar num clube da região, no caso, o Ribeirão 1968 Futebol Clube, de Famalicão, - de que se dizia diretor-geral - o que nunca sucedeu. Ainda assim, assinavam um contrato, que servia para que o SEF os deixasse entrar no país no aeroporto. O clube em causa de nada sabia.
Um dos jovens, António Souza, ex-Palmeiras, esteve três meses abandonado pelo empresário no hostel, tendo acabado por nele trabalhar para poder dormir e ido para a construção civil. Situação que se repetiu com os outros quatro.