O agente da PSP que baleou o cidadão cabo-verdiano Odair Moniz, em outubro, na Cova da Moura, vai ser ouvido no dia 10 de janeiro na Inspeção-Geral da Administração Interna (IGAI), no processo disciplinar que lhe foi instaurado após a morte do cozinheiro, apurou o JN.
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Os outros elementos da PSP que estiveram no local já foram todos inquiridos pela IGAI e adiantaram, de acordo com informações recolhidas pelo JN, as mesmas versões que apresentaram à Polícia Judiciária (PJ) e ao Ministério Público (MP).
Segundo ainda foi possível apurar, o agente que baleou Odair declarou à PJ e ao MP ter disparado após ter avistado a lâmina da faca que o condutor do carro em fuga tinha numa bolsa e que veio a ser apreendida no local. Assegurou ainda ter a firme perceção de que Odair ia tirar a faca da bolsa, enquanto estava em confrontos físicos com o outro PSP, após o condutor ter resistido à detenção.
Já no primeiro interrogatório a que foi sujeito na PJ, o agente da PSP prestou declarações e reconheceu de imediato ter sido o autor dos dois disparos fatais para Odair. Terá explicado que o morador do Bairro do Zambujal, na Amadora, fugiu a uma fiscalização rotineira, pelo que os dois agentes que estavam de patrulha foram atrás dele. Entrou para o Bairro Alto da Cova da Moura, onde abalroou vários carros estacionados e ficou imobilizado.
No interrogatório, o agente terá assegurado que, ao sair da viatura, Odair resistiu à detenção. Ameaçou os agentes e entrou em confronto físico com um deles. Ainda segundo apurou o JN, na confusão, os agentes ter-se-ão apercebido de que o condutor estava a tentar agarrar uma arma na bolsa. Visualizou a lâmina da faca. Terá sida naquela fração de segundos que um dos agentes disparou quatro vezes. Primeiro, duas vezes para o ar, na tentativa de travar as agressões, e, depois, acertou com dois tiros no corpo de Odair. A vítima, que não chegou a exibir a faca, faleceu pouco depois no Hospital São Francisco Xavier.
Numa primeira comunicação oficial, a Direção Nacional da PSP tinha apontado para uma atuação em legítima defesa por parte dos agentes. Porém, à luz das provas recolhidas no local, bem como dos interrogatórios dos agentes, a principal linha de investigação enquadra os factos num eventual excesso de legítima defesa, numa ação policial justificada pela fuga e resistência do condutor.