Grupos de 29 casuals da Juve Leo e No Name Boys foram detidos pela PSP numa operação antiviolência no desporto. São suspeitos de fazer reinar terror com violência gratuita.
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Roubos, ofensas à integridade física, agressões a agentes da PSP, participação em rixa, ameaças e desobediência de interdição à entrada em recintos desportivos, além de tráfico de droga. São estes os crimes que levaram a PSP de Lisboa a deter, quarta-feira, 29 elementos de grupos casuals. São adeptos violentos e perigosos do Sporting e Benfica, sem emblemas ou roupas que os identifiquem como tal, e que aderem às claques Juve Leo e No Name Boys.
Não hesitavam em agredir adeptos dos próprios clubes, apenas por terem amigos de equipas rivais. De acordo com as autoridades, estes elementos caracterizados por extrema violência e ideais "ultras" mostram-se capazes de cometer qualquer crime em nome do clube. Dentro das claques, conseguem tirar partido financeiro de várias atividades ilícitas, como tráfico de droga ou venda de bilhetes. Mas ao trajarem de forma casual (sem adereços de clubes) tornam difícil a sua identificação. A operação da PSP que culminou na detenção destes adeptos decorreu em vários concelhos da Área Metropolitana de Lisboa, na grande maioria nos bairros periféricos e na Margem Sul do Tejo.
A investigação apurou que o fervor destes adeptos radicais levava-os mesmo a agredir elementos das claques a que são afetos, do Benfica ou do Sporting, como retaliação pelo facto de eles terem amigos ou conhecidos simpatizantes de clubes adversários, o que é considerado uma traição merecedora de castigo.
Bilhetes e telemóveis
Além da violência gratuita junto aos estádios, onde roubam bilhetes dos jogos e outros bens às vítimas (telemóveis), também fazem perseguições nas redes sociais, selecionando alvos por várias razões e fazendo-lhes emboscadas na rua para os atacar.
Durante a operação, que contou com dezenas de agentes da PSP e ainda com a colaboração da GNR nas zonas de Almada, Seixal e Sesimbra, foram apreendidas 700 munições, cerca de três quilos de haxixe, 100 gramas de heroína, bem como engenhos pirotécnicos, armas de fogo e armas brancas. Além dos 29 casuals, outro suspeito foi detido por posse ilegal de arma de fogo, apesar de não estar relacionado com o grupo em causa.
A investigação começou no dia 23 de abril de 2022, quando um grupo de casuals afeto à Juve Leo agrediu e roubou adeptos do Benfica, depois de um jogo de andebol entre os dois clubes, no Pavilhão João Rocha. Os crimes ocorreram no exterior do pavilhão e, desde esse momento, a PSP, através da Investigação Criminal, montou uma operação para desmantelar o grupo e deter estes e outros elementos dos casuals. Para tal, identificou cerca de uma dezena de episódios de violência em redor dos estádios e pavilhões do Sporting e Benfica nos quais estes estavam envolvidos.
Os suspeitos passaram a noite divididos entre a esquadra de Benfica e a da Investigação Criminal da PSP de Lisboa, para serem hoje levados ao juiz de instrução criminal, para aplicação de medidas de coação.
Subcultura marcada pela violência e ideias ultras
O grupo denominado casuals encontra-se referenciado e é conhecido das autoridades por adotar frequentemente comportamentos agressivos e conflituosos antes, durante e depois dos jogos de futebol e outras modalidades, tratando-se de fervorosos adeptos, que partilham ideais ultras e são associados frequentemente à extrema-direita. Não usam roupas alusivas ao clube nem têm afiliação nas claques organizadas, pelo que são mais difíceis de controlar". Esta foi a descrição utilizada por Cândida Vilar, procuradora que liderou a investigação ao processo do ataque à Academia de Alcochete, no despacho de acusação contra os invasores. A subcultura casual, que regista em Portugal um crescimento nos últimos anos, é originária do Reino Unido.
Alcochete
Adeptos do Sporting com ligação à subcultura casuals participaram no ataque à Academia de Alcochete, em maio de 2018. Na invasão ao balneário e agressão a jogadores e equipa técnica pelos maus resultados do Sporting, Rúben Marques, casual, foi quem atacou Jorge Jesus e Bas Dost com um cinto, e foi mesmo tido como o mais ávido agressor, sendo condenado a prisão efetiva. Este era um dos 38 agressores encapuzados que foram banidos dos estádios.
No Name condenados
O Tribunal de Sintra julgou 31 arguidos ligados ao grupo No Name Boys. O processo terminou com condenações por furtos, roubo, dano, detenção de arma proibida e ofensas à integridade física a vários arguidos em múltiplos episódios de violência, mas nenhum foi condenado a penas de prisão efetiva. Todos os arguidos ficaram proibidos de frequentar recintos desportivos. Três foram condenados pelo apedrejamento ao autocarro do Benfica na A2 no Seixal em 2020.