Agressões a avó e rapto de crianças em Gondomar: "O cabelo dela está aqui. Foi espancada pelas minhas mãos"
O vídeo onde três irmãos se gabam de ter agredido a própria mãe e de ter resgatado dois menores que estavam à sua guarda por ordem judicial, em Gondomar, foi exibido esta manhã de quarta-feira no Tribunal de S. João Novo, no Porto, no início do julgamento onde nove arguidos respondem por vários crimes violentos.
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Nas imagens, a mãe dos meninos assume as agressões. "Tá aqui. Fui eu. Cortei-lhe o cabelo. Dei-lhe uma grande sova, espanquei-a toda. O cabelo está aqui. Foi espancada pelas minhas mãos”, diz Patrícia Dias, mãe dos dois menores, que se encontra em prisão preventiva, tal como dois irmãos e o companheiro.
Domingos Dias (pai), ex-companheiro da vítima, e os seus três filhos optaram por permanecer em silêncio no início do julgamento. Porém, alguns dos outros arguidos decidiram falar para garantir a sua inocência. Nuno Monteiro, 30 anos, disse que estava a trabalhar a 6 de fevereiro de 2024, no dia em decorreram os factos e que assinou a folha de ponto da fábrica nessa manhã, o que provará a sua inocência. “Destruíram a minha vida quando me bateram à porta”, lamentou o arguido, garantindo que não tem qualquer ligação com o crime. “Quero voltar a ser feliz porque todos os dias, antes de dormir, a minha filha diz que tem medo que voltem a vir levar-me sem eu ter feito nada”, confessou.
Outro dos acusados, José Dias, irmão do patriarca da família, disse que foi apontado pela vítima das agressões como um dos autores dos crimes porque esta “sempre sentiu ódio” por si. O tio-avô dos menores garantiu que não agrediu ninguém e que nem sequer sabia onde morava a sua ex-cunhada. Ao ver o video, admitiu perante o tribunal que eram os seus sobrinhos que nele apareciam.
José Dias explicou que as armas brancas apreendidas pelas autoridades em sua casa fazem parte de "uma coleção" e que é impossível que uma delas, de cor azul, tenha sido usada no crime. "Nunca saiu de minha casa", assegurou. A vítima acusou-o de lhe ter apontado uma pistola à cabeça e uma faca ao pescoço. José nega categoricamente. “Por amor de Deus, Acha que eu era capaz disso? Acusou-me a mim como acusou mais quatro inocentes”, respondeu.
Também Bruno Maia disse estar completamente inocente e queixa-se de ter sido identificado pelo companheiro da vítima através de uma fotografia de grupo. Admitiu que conhece a maior parte dos arguidos, mas que “não convive com eles”. Questionado pelo tribunal, disse não saber porque foi acusado de apontar uma faca ponta e mola ao companheiro da ofendida. Bruno especulou que poderá ter sido reconhecido porque estava ao lado de alguns dos arguidos numa foto que foi mostrada às vítimas.
Segundo a acusação, os arguidos, quase todos da mesma família, engendraram um plano para recuperar duas crianças que estavam à guarda da avó, desde que esta se tinha separado do patriarca da família, em 2020. O Ministério Público sustenta que os arguidos descobriram a residência da mulher, em Gondomar. Invadiram a casa armados com pistolas e facas, ameaçaram-na, agrediram-na e ao companheiro até ela desmaiar, cortaram-lhe o cabelo e levaram os dois menores. Ainda nesse dia, os três irmãos fizeram um vídeo no Facebook a gabarem-se do que tinham feito, mostrando o cabelo que tinham cortado à própria mãe como prova dos atos.
Todos os nove arguidos estão acusados da prática, em coautoria, de dois crimes de rapto (dos menores), dois de sequestro, dois de roubos, dois de ofensas à integridade física qualificada, dois crimes de ameaça e um crime de dano. Um dos arguidos responde também por detenção arma proibida. Os três irmãos Dias, Luciano, Domingos (filho) e Patrícia e o companheiro desta, Estrela Saavedra, estão em prisão preventiva.
Nas exposições introdutórias, o advogado de Luciano e Domingos Dias garantiu que estes não cometeram vários dos crimes pelos quais vinham acusados. Aníbal Pinto explicou que não cometeram sequestro ou furto, nem rapto de menores, “uma vez que agiram por direito de necessidade” e no dia seguinte foram à CPCJ para regularizar a guarda parental. Apenas praticaram o crime de ofensa à integridade física, mas não qualificada, e fizeram-no em excesso de legítima defesa. "Deslocaram-se pacificamente à residência do casal e só agiram depois de terem sido agredidos pelo ofendido", explicou o advogado.
Já a advogada de Bruno Maia adiantou que o seu cliente não esteve no local, nem conhecia o litígio familiar em causa. “Estava a dormir na sua casa em Vila Nova de Famalicão e foi levar os dois filhos menores à escola nessa manhã”, assegurou a advogada. Também o advogado de Carlos e José Dias, irmãos de Domingos Dias, o patriarca, prometeu provar “a sua total inocência”. Nunca estiveram no café Vértice, nunca foram a Fânzeres. “Sempre tiveram desavenças com a ofendida e terá sido por isso que ela os colocou no local”, afirmou.