A aldeia de Cossourado, em Barcelos, acordou, esta quarta-feira, atordoada com a notícia de um homicídio, que alguns moradores pressentiam que pudesse acontecer: Rosa Barbosa, viúva, de 78 anos, foi morta à pancada por um homem 30 anos mais novo, a que dava abrigo na sua casa há cerca de quatro.
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As autoridades e a vizinhança já conheciam o ambiente de violência, marcado por consumo de álcool, em que vítima e agressor viviam debaixo do mesmo teto, no n.º 194 da rua Monte Salgueiros. E o pior acabou mesmo por acontecer na terça-feira à noite. João, suspeito que era conhecido na aldeia pela alcunha ‘Estica’, terá chegado mais uma vez a casa alterado, cerca das 21 horas. Discutiu com Rosa e esmurrou-a até à morte. Mas só terá dado conta do que tinha feito cerca das cinco da manhã, altura em que ligou para uma vizinha a contar que “tinha feito asneiras”. Permaneceu no local, onde foi detido pela GNR, sem oferecer resistência. O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária.
“Estou chocada. Estamos todos. Eu estava no campo às nove e tal, e veio um vizinho, com quem até se dá o caso de não falar há muitos anos, dizer: ‘Vizinha, o ‘Estica’ matou a Rosa’. E eu disse: o quê? É verdade, isso?”, contou uma habitante de Cossourado, que o JN encontrou a regressar do local do crime.
"Andava para aí ao deus-dará e ela meteu-o dentro de casa"
Tal como toda a vizinhança ao redor da casa, a mulher contou a sua versão da "relação" entre os envolvidos no homicídio, mas sem se querer identificar. “Ele dizia que queria casar com ela, mas era para lhe apanhar a reforma. Andava para aí ao deus-dará e ela meteu-o dentro de casa. Não se mete ninguém dentro da nossa casa. O que é que ela arranjou? Arranjou quem a matasse”, lamentou.
Rosa Barbosa morreu supostamente em resultado de agressões brutais infligidas “com as mãos” pelo homem por quem dizia [aos vizinhos] que “estava apaixonada” e a quem deu abrigo após este ter sido despejado de uma casa da aldeia e ter passado a viver “debaixo de uns plásticos no monte”. Moradores da rua Monte Salgueiros relatam que os episódios de violência eram frequentes.
“Estou aqui há oito anos e fui muito feliz durante quatro anos com a dona Rosa, mas de há quatro anos para cá, desde que meteu aquele diabo dentro de casa, fui muito infeliz com ela. Alertei-a tantas vezes para ela não o meter lá dentro”, contou uma vizinha que também não se quis identificar, referindo que "antes conversava horas" com Rosa, mas que esta lhe “deixou de falar” por causa dos avisos que lhe fez. E 'Estica' passou a “ameaçá-la”.
“Dizia que me havia de acabar com a tosse. Ele fumava ‘ganza’ e ontem [terça-feira] vinha desnorteado. Provocou-me da estrada. Eu estava na janela da cozinha e vi que quando chegou aí [a casa de Rosa] começou aos pontapés à porta. Ouvi-o bater com um pau numa mesa que eles tinham cá fora [no quintal]. Foi entre as nove e as dez e meia da noite. Ouvi gritos, mas eles discutiam sempre muito. Ele chegava sempre bêbado e drogado”, relatou, acrescentando: “Ouvi sempre muito barulho lá dentro, eles a discutir, e ironia do diabo, vinha sempre a ambulância buscá-la, mas ela defendia-o, dizia que tinha caído. A GNR também vinha aí”.
Autoridades sabiam da violência
Ao que o "Jornal de Notícias" apurou, o cenário de violência doméstica n.º 194 da rua Monte Salgueiros, era do conhecimento e estava a ser seguido pelas autoridades.
Rosa era viúva e tem um filho emigrante em Angola, que supostamente terá vindo a Portugal e tentado, uma vez, que o suspeito saísse de casa da mãe, mas terá sido agredido.
No fim de semana passado, Rosa participou numa excursão a Fátima, promovida pela junta de freguesia de Cossourado. O JN tentou por várias vezes contactar a autarca local, mas sem êxito. “Quando ela foi a Fátima no sábado, ele ficou aí o dia todo, com a música alta. Há oito dias tivemos que chamar a GNR porque ninguém aqui conseguia ter paz e sossego”, recordou a vizinha.
Esta quarta-feira, junto ao portão de casa, o cão de Rosa, 'Piruças', que segundo moradoras que estiveram no local, era "o seu companheiro", permanecia quieto e amedrontado. Um segundo cão, que pertencia ao suspeito, não parava de ladrar. Os animais deverão ser recolhidos.