Chamadas telefónicas perto do resort na praia da Luz levantaram suspeitas. Cadastro por crimes sexuais contra crianças ficou por escrutinar.
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O novo suspeito do caso Madeleine já tinha sido referenciado e escrutinado pela Polícia Judiciária (PJ). O número de telemóvel que utilizou perto do Ocean Club, na praia da Luz, em Lagos, a 3 de maio de 2007, próximo da hora a que a menina desapareceu, levou os investigadores até Christian Brueckner. Mas o alemão foi descartado por não ter interesse para a investigação.
Nessa altura, Christian tinha uma longa ficha criminal que não terá sido escrutinada pela Polícia Judiciária. Em Portugal, estava referenciado por furtos e, na Alemanha, já tinha sido condenado por vários crimes, incluindo abuso sexual de menores. Crimes que começou a cometer quando tinha apenas 17 anos. Tem agora 43 e, pelo menos, 17 crimes no cadastro. A polícia inglesa também não o encarou como possível suspeito, uma vez que recebeu o processo e não requereu à PJ quaisquer diligências que o envolvessem.
A reviravolta dá-se em 2017 com uma conversa num bar, na Alemanha. Christian assistia a uma reportagem televisiva sobre os dez anos do desaparecimento de Madeleine e contou a um amigo que sabia o que tinha acontecido. Também contou que tinha violado uma idosa na praia da Luz, em 2005. O amigo alertou a polícia alemã, que relacionou Christian à violação pelo ADN, que era compatível com o de um cabelo encontrado no local do crime. O alemão acabou condenado pela violação e por outro crime de natureza sexual. Sobre Madeleine, nada disse à polícia germânica. Foi nesta altura que se tornou o novo suspeito do desaparecimento.
Confrontado com as críticas de que Christian não teria sido devidamente investigado, o diretor nacional-adjunto da PJ, Carlos Farinha respondeu que, "pelo menos desde 2011, quando se iniciou a Operação Grange, a polícia inglesa recebeu da Polícia Judiciária todos os elementos que estavam no nosso processo". Disse, ainda, à Lusa, que "se Christian Brueckner lá estava, como lá estavam centenas de pessoas e se fossem assim tão evidentes as suspeitas sobre essa pessoa, teria sido alvo de diligências pedidas pelos ingleses, e que sempre foram autorizadas em Portugal, mas nunca solicitaram".
Christian já cumpriu uma parte das duas penas a que foi condenado na Alemanha, requereu a liberdade condicional e poderá vir a ser libertado em breve. Terá sido por esse motivo, e por não ter provas do seu envolvimento no caso Madeleine, que a polícia alemã decidiu fazer este apelo, divulgando fotografias das casas e veículos que o homem utilizou no Algarve, entre 1995 e 2007, o número de telemóvel que tinha e o do homem que lhe telefonou na noite do desaparecimento da criança.