SIS recebeu informação de ataque em preparação, em 2017, e admitiu envolvimento de Amman e Yasser Ameen.
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Os dois irmãos iraquianos detidos pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeita de pertencerem ao Estado Islâmico foram apontados pelo Serviço de Informações de Segurança (SIS) como podendo fazer parte de um grupo que estava a preparar um atentado na Alemanha. Segundo a secreta, ambos encaixavam na descrição enviada por uma congénere estrangeira. Amman Ameen, 34 anos, e Yasser, de 32, foram considerados de imediato um "risco para a segurança nacional e europeia" e alvo de vigilância apertada.
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Num processo judicial para anular a rejeição dos seus pedidos de asilo e de proteção internacional de refugiados pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) descreve-se que os dois irmãos entraram em Portugal em março de 2017 beneficiando de uma autorização de residência provisória. Mas, apenas cinco meses depois, um inspetor do SEF de Leiria deu conta da denúncia de um refugiado iraquiano que garantiu que os irmãos militavam no Estado Islâmico.
Da informação constava que, de seis irmãos, quatro eram terroristas e Amman Mohammed Ameen era mesmo um membro destacado do Daesh, "um chefe". A denúncia garantia que os irmãos a viver em Portugal eram perigosos e tinham participado em ações violentas contra o povo de Mossul, no Iraque.
O relato foi logo partilhado pelo SEF com parceiros da Unidade de Coordenação Anti-Terrorista (UCAT), onde têm assento, entre outros, o SIS e a PJ, tendo esta última, através da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) aberto uma investigação.
As suspeitas agravaram-se em outubro de 2017. O SIS recebeu uma informação confidencial alertando para uma ameaça envolvendo quatro indivíduos que teriam intenção de cometer um atentado na Alemanha em nome do Estado Islâmico. O SIS comparou os dados que recebera com os dos dois irmãos e considerou "provável" que fizessem parte do grupo, sobretudo Amman, alertando para o "risco à segurança portuguesa e da Europa" que constituíam.
Pediu asilo na Alemanha
A PJ nunca mais lhes largou o rasto e, um mês depois, informou todos os parceiros de que Amman se deslocou à Alemanha. Ali, foi-lhe recusado um pedido de asilo, por já ter outro em curso em Portugal, onde acabou por regressar.
Um ano depois, o SIS elabora um relatório onde apenas Amman é classificado como risco para a segurança interna e volta a envolvê-lo na preparação de um atentado na Alemanha. No documento, o irmão mais velho é descrito como tendo um "comportamento hostil e recusa de integração na sociedade portuguesa".
Mas outro episódio viria fazer soar os alarmes. Em março de 2019, no Gabinete de Asilo e Refugiados de Lisboa, irritado com os atrasos no seu pedido de asilo, Amman ameaçou os inspetores do SEF: "cheguei ao meu limite. Eu suicido-me. Mas não morro sozinho. Estou a falar a sério". A ameaça foi levada a sério, participada ao Ministério Público e a PJ, após investigação e troca de informações com as autoridades iraquianas, deteve os irmãos.
Garantiu ter sido vítima do islamismo
Num processo judicial, em que tentou reverter a rejeição do pedido de asilo no SEF, Amman Ameen garantiu ter sido vítima do terrorismo islâmico. Alegou ter perdido a mulher e a filha, de nove meses, devido a um atentado em Mossul, Iraque, em 2010. Explicou que, na terra natal, exerceu a profissão de cantor e jornalista e que era perseguido pelas milícias do Daesh. Alegou que os cantores em festas ou encontros em que se consumia álcool eram vistas como pessoas sem moral. Garantiu ter sido avisado por um amigo de que iria ser detido e que deveria fugir. Sem trabalho, tornou-se sem-abrigo. Afirmou que se voltasse ao Iraque seria assassinado pelos militantes radicais. Os juízes, tal como o SEF, recusaram-lhe o pedido de asilo.