Ministério Público alega que refeições registadas como despesa provam que quilómetros cobrados não foram realmente realizados.
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O Ministério Público (MP) defende que há faturas de almoços e jantares apresentadas como despesas pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros (OE), Ana Rita Cavaco, e outros dirigentes da associação profissional que provam que estes não percorreram, em 2016, os quilómetros que declararam ter feito em serviço e pelo quais receberam milhares de euros.
A discrepância entre as distâncias registadas e as percorridas pelos carros alegadamente usados nas deslocações, bem como a diferença entre o total de quilómetros feitos em 2016 e nos anos seguintes, são outros dos argumentos usados pelo MP na acusação proferida no passado dia 24 de janeiro e conhecida na segunda-feira.
Ana Rita Cavaco, outros 10 dirigentes ou ex-dirigentes e três funcionários da OE - e não 14 dirigentes, como por lapso o JN referiu inicialmente na segunda-feira - foram acusados de peculato e falsificação de documento, por terem, alegadamente, recebido mais de 65 mil euros pelo pagamento indevido de quilómetros.
A maior parcela, de 14 042 euros, terá sido cobrada por Graça Machado, à data vice-presidente da OE, e que, apesar de ter denunciado publicamente o caso, está também entre os arguidos. Ana Rita Cavaco, que nega a prática de qualquer crime, terá recebido 10 631 euros.
Entre as despesas invocadas como prova pelo MP estão, sobretudo, almoços (e por vezes jantar no mesmo dia) em Lisboa, apesar de supostas reuniões de várias horas noutras regiões do país, incluindo o Minho.
Um dirigente regional terá, por sua vez, cobrado quilómetros nas mesmas datas em que apresentou despesas de transportes e de alojamentos no estrangeiro.
Deslocações "feitas"
Numa reação no Facebook à acusação, Ana Rita Cavaco atacara já a fundamentação do MP. Este chega a pô-la fora do país em datas em que a bastonária cobrou quilómetros, quando o seu bilhete de avião demonstra o contrário, exemplifica.
Já a OE reitera que "todas as deslocações" em causa foram "efetivamente feitas" e em serviço, tendo os arguidos justificado "uma a uma", incluindo com documentação, aquelas com que foram confrontados no inquérito.