Uma das alegadas testas de ferro da cabeleireira dos famosos admitiu esta segunda-feira no Tribunal de São João Novo, no Porto, que abriu uma conta em seu nome, mas à qual nunca teve acesso. Florinda Vieira disse ter confiando totalmente em Fernando e Inês Pereira.
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Inês Pereira, os dois filhos, o ex-marido, as funcionárias e os alegados testas de ferro, num total de 12 arguidos estão a responder por crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais que terão lesado o fisco em quase dois milhões de euros e beneficiado apenas a cabeleireira e os seus familiares.
Ontem, no início do julgamento, apenas seis dos arguidos se mostraram dispostos a prestar declarações. Os restantes, incluindo a cabeleireira, marido e filhos, optaram pelo silêncio.
Segundo a acusação, “para ocultar rendimentos das lojas, o Grupo Inês Pereira começou a utilizar "contas bancárias de terceiros, não diretamente relacionáveis com aqueles, para encobrir os montantes fiscalmente omitidos". Florinda Vieira é uma dessas pessoas, que terá sido usada então como testa de ferro.
Esta arguida disse ao tribunal que em 2011, Fernando Pereira lhe propôs abrir uma conta em seu nome, pedido a que acedeu dias depois. Explicou o gesto ao tribunal afirmando que conhecia Fernando e Inês Pereira há alguns anos e que eles até eram os padrinhos do seu filho. Acrescentou que se limitou a assinar a papelada para a abertura da conta e que a ela “nunca teve acesso”. Declarou ainda que chegou a assinar alguns cheques em branco, “a pedido” da Inês Pereira.
Segundo esta arguida, a conta terá durado cinco meses, altura em que assinou o documento de fecho da mesma. Isto porque “as coisas começaram a complicar-se”, aludindo a uma carta das Finanças a pedir esclarecimentos sobre o rendimento declarado e sobre a origem do elevado saldo da conta. Além disso surgiu também uma dívida relacionada com a mesma conta. Florinda garantiu que “nunca” tinha tocado “num tostão”. Conversou com Fernando e Inês Pereira e acordou que pagaria a dívida em prestações, com dinheiro fornecido por estes.
“Eu não aprendo”, disse Florinda arrependida, admitindo que fez tudo “com base na confiança total que tinha no Fernando e na Maria Inês Pereira”.
Declarou 33 mil euros e tinha mais de 600 mil na conta
Vera e Cátia, também arguidas, foram rececionistas em lojas do Grupo Inês Pereira. Ambas já trabalhavam há vários anos para a empresa e admitiram que a forma de faturação não foi sempre igual.
As mudanças ocorreram sobretudo desde 2011, altura em que o Ministério Público fez uma inspeção ao grupo e concluiu que naquele ano, a cabeleireira dos famosos tinha declarado “rendimentos de trabalho dependente de mais de 33 mil euros, mas na sua conta bancária particular caíram 605 mil euros”. O dinheiro era proveniente de pagamentos com cartões de débito ou crédito em terminais das lojas Inês Pereira.
As duas colaboradoras garantiram que a partir dessa altura receberam instruções de que “teriam de faturar aquilo que fosse por multibanco e o dinheiro dos clientes que pedissem fatura. O resto – diz o MP que foram 1,8 milhões – era colocado num envelope que diariamente era entregue a Inês ou familiares, ou alguém “do escritório”.
O julgamento continuará dia 11 de outubro.