Atacou companheira à porta da casa no Amial, Porto, quando ia trabalhar. Vítima pedira ordem de afastamento mas decisão não chegou a tempo.
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Ana Miranda, 32 anos, começa na quinta-feira a ser julgada no Tribunal de São João Novo, no Porto, por homicídio qualificado. A 13 de março deste ano, desferiu uma dúzia de facadas e matou a mulher, Catarina Gonçalves, de 25 anos, que, meses antes, tinha pedido o divórcio e saído de casa.
Ana sabia que Catarina saía cedo para trabalhar e ficou à sua espera na rua Benjamim Gouveia, no Porto. Não era a primeira vez. Há algum tempo que Catarina tinha saído da casa que partilhavam em Gaia. Refugiara-se num modesto anexo de uma casa naquela pacata rua no Amial. Apesar de ter apagado todos os registos das redes sociais, a mulher descobriu a nova morada.
Após sete conflituosos anos de união, Ana recusava-se a aceitar o fim do casamento com Catarina. Frequentemente ia ao encontro dela na nova casa ou no trabalho, um restaurante de fast-food na Estrada da Circunvalação. Ana estava convicta de que conseguiria convencer Catarina a desistir do divórcio e a voltar para casa. Porém, na realidade, os encontros entre ambas terminavam quase sempre mal e em violentas discussões.
Ordem de afastamento
Por experiência própria, Catarina conhecia bem o temperamento possessivo e impulsivo de Ana. Estava a ser perseguida e intimidada. Tinha medo do que ela poderia fazer. Por isso, além do pedido de divórcio, requereu junto do Tribunal de Vila Nova de Gaia uma ordem de afastamento. Mas a decisão não chegou a tempo.
Às 6.30 horas de 13 de março de 2021, Catarina saiu de casa para ir trabalhar. Ana viu-a na rua e foi ter com ela. Como ocorrera várias vezes antes, discutiram. E tudo aconteceu muito rápido. Os vizinhos ouviram berros, algum barulho e, depois, silêncio.
Catarina sentiu-se ameaçada e lançou gás pimenta de uma botija que transportava por precaução. Não adiantou nada. Ana tinha uma faca de cozinha. Cega de ciúmes e do gás, investiu contra ela e desferiu facada atrás de facada. Atingiu Catarina no tórax, nas costas, nos braços e no pescoço. Ao todo, foram 12 facadas que lhe viriam a causar a morte. Ainda com a faca na mão, Ana abandonou o local. Algumas horas depois, cerca das 10.30, a agressora entregou-se na esquadra da PSP do Bom Pastor.
Ana disse às autoridades que nunca teve qualquer intenção de magoar Catarina. Levava a faca porque pretendia suicidar-se e foi ao encontro da mulher só para se despedir dela. Porém, quando esta a pulverizou com o gás pimenta, sem conseguir ver, reagiu defensivamente e esfaqueou-a, explicou.
Após ter sido presente a primeiro interrogatório judicial, Ana Miranda ficou em prisão preventiva, situação que ainda se mantém. O Ministério Público acusou-a de um crime de homicídio qualificado. Ana começa esta manhã a ser julgada no Tribunal de São João Novo, no Porto.