Luís Mendes não deixou a cadeia antes porque nunca assumiu culpa. Agora tem mesmo de sair.
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Na sexta-feira, dia 14, o ex-padre Luís Mendes, de 46 anos, sai da cadeia em liberdade condicional. Condenado, em 2013, a dez anos de prisão, por 11 crimes de abuso sexual de menores, seis de abuso de menores dependentes e um de coação sexual, o antigo vice-reitor do Seminário do Fundão cumpriu cinco sextos da pena (cerca de oito anos e três meses) e, obrigatoriamente, abandona o Estabelecimento Prisional da Guarda.
Luís Mendes ficará em liberdade condicional até dezembro de 2024, quando se cumprir a totalidade da pena de dez anos. Soube o JN que Luís Mendes, afastado das funções de sacerdote em 2019, por decisão do Vaticano, beneficia há cerca de três meses do regime aberto de reclusão, o que lhe tem permitido trabalhar, seis dias por semana, no exterior da cadeia, onde já só ia dormir. Depois de sexta-feira, já em liberdade, Luís Mendes continuará a exercer funções de ajudante de cozinha num restaurante da cidade da Guarda, confirmou o empregador.
Sempre clamou inocência
Podia o parecer do Conselho Técnico ser negativo que já nada seguraria Luís Mendes na cadeia, porque, atingidos os cinco sextos da pena, os presos são obrigatoriamente libertados.
Até agora, nenhuma das tentativas do recluso para obter liberdade condicional resultou. A juíza titular do processo no Tribunal de Execução de Penas de Coimbra chumbou o pedido feito a meio da pena, em dezembro de 2019, e aos dois terços, em agosto de 2021. E isto porque Luís Mendes manteve que sempre tratou as vítimas como se fosse seu pai, nunca assumiu qualquer culpa nem mostrou arrependimento. "Não interiorizou o desvalor da sua conduta", respondeu então a juíza, para quem faltavam garantias de que aquele não pudesse reincidir.
Aliás, atingidos os dois terços da pena, o tribunal considerou até que o antigo padre "ainda não tinha interiorizado a gravidade dos crimes" e que, subsistindo as necessidades de prevenção geral e especial, "nem o condenado reunia as condições para sair da cadeia, nem a sociedade estaria preparada para o receber".