"Apagão" do capítulo sobre extrema-direita do RASI foi aprovado por Gabinete de Segurança
A retirada de um capítulo sobre a análise da Polícia Judiciária à extrema-direita do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) foi aprovada numa reunião do Gabinete de Segurança Interna. No encontro estavam presentes a ministra da Justiça, Rita Júdice, e da Administração Interna, Margarida Blasco.
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A exclusão do trabalho sobre extremismos foi decidida numa reunião do Gabinete Coordenador de Segurança, informa o "Diário de Notícias". A estrutura em causa integra as secretas, as polícias e o Governo, estando todos a par da decisão.
Em causa estão cinco páginas sobre "Ameaças Híbridas e Extremismos", aponta o jornal, que não integraram o documento que retrata a criminalidade em Portugal.
A reunião em que foi decidido "apagar" este capítulo aconteceu a 21 de março, num encontro em que estavam presentes a ministra da Justiça, Rita Júdice, e da Administração Interna, Margarida Blasco.
O Sistema de Segurança Interna (SSI) tinha já explicado, no início do mês, que existiu uma "versão de trabalho" do Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) que incluía informação sobre organizações extremistas, diferente da "versão oficial" apresentada na reunião.
O que se aponta nessa análise que foi retirada do RASI, explica o DN, é a existência de um ramo de uma organização extremista internacional, ligada à extrema-direita, "contra a qual foram já impostas sanções financeiras por incitamento e financiamento do terrorismo".
A "Expresso" tinha avançado que o grupo em causa é o neonazi "Blood & Honour" (Sangue e Honra, em português), nome inspirado na juventude hitleriana, responsável por mortes e ataques violentos nos EUA e na Europa. Esta organização, acrescentava o relatório preliminar, promove encontros através de eventos musicais, incluindo em território nacional, e que funcionam como método de recrutamento de militantes e como forma de financiamento para produção de material de propaganda, por exemplo.
Discussão leva a eliminar capítulo inteiro
A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna, Patrícia Barão, explicou ao DN que a exclusão deste ponto do trabalho foi tomada depois de uma "discussão de todos os intervenientes", que tinham recebido o documento de trabalho a 17 de março. Da discussão resultaram "divisões", explica o jornal, optando-se, por fim, pela completa eliminação da informação em causa.
O DN cita várias fontes para apontar que o secretário-geral do Sistema de Informações da República Portuguesa (SIRP), o embaixador Vítor Sereno, terá expressado reservas sobre publicar o capítulo sobre extremismos, alegando que é ao SIRP que caberá a análise de tais ameaças.
Nem a PJ, autora da análise que foi eliminada, nem o gabinete da ministra da Administração Interna, se mostraram disponíveis para prestar mais esclarecimentos ao jornal.