A Arquidiocese de Braga assume ter iniciado uma investigação interna à Fraternidade Missionária Cristo Jovem, convento em Famalicão, depois de em 2014 ter recebido queixas de "presumíveis anomalias" na vida diária da comunidade.
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"Foi indicado, ao mesmo tempo, um sacerdote para acompanhar mais de perto a vida da Fraternidade Cristo Jovem. Deslocou-se semanalmente à comunidade, dedicou tempo a conversas pessoais com as irmãs residentes e iniciou a elaboração de um relatório contendo as informações necessárias em ordem a uma oportuna decisão", referiu a Arquidiocese, em comunicado remetido à agência Lusa, sem detalhar essa mesma decisão.
Contactada esta quinta-feira pela Agência Lusa, a Arquidiocese de Braga também não quis prestar mais esclarecimentos sobre este caso, para além dos feitos no comunicado.
Na quarta-feira, três freiras, fundadoras da instituição, e um padre, atual dirigente, foram constituídos arguidos por suspeitas de maus-tratos, escravidão e cárcere a três noviças, depois de buscas da Polícia Judiciária (PJ).
O advogado da instituição, Ernesto Salgado, disse que durante as buscas da PJ ao convento foram apreendidos objetos e documentos.
Na sua nota de imprensa, a Arquidiocese de Braga realça que "as irmãs sempre manifestaram plena liberdade na sua estada". As "queixas" de anomalias na instituição foram feitas por ex-membros do convento, adiantou.
A Fraternidade Missionária Cristo Jovem nasceu de um movimento para jovens que, posteriormente, construiu um edifício em Requião, Vila Nova de Famalicão, sendo agora uma associação de fiéis com estatutos aprovados a 24 de janeiro de 1978 pela Arquidiocese de Braga.
No segundo domingo de cada mês, o convento é aberto ao público para participarem em atos formativos e litúrgicos.
O JN refere que na origem da associação está um sacerdote, tido como um defensor de uma igreja "ultraconservadora", que terá ditado que as mulheres só entravam na casa de Requião (Famalicão) com saia comprida e cabeça coberta e os homens de mangas compridas e calças.
Ainda segundo o JN, com o sacerdote viviam pelo menos três mulheres, chamadas "irmãs" na Fraternidade, que se vestiam como freiras, embora não pertençam a nenhuma congregação religiosa.
"Com uma mensagem catastrófica e, com frequência, evocando o 'fim do mundo', os prospetos da fraternidade referem a presença em Requião de várias 'videntes' nos dias em que a casa abre à população. Atualmente, já com menos crentes e menos ajuda financeira, a sede da associação acolhe um reduzido número de mulheres", refere o JN.
Foi esta associação que trouxe para Portugal as "cruzes do amor" que ainda podem ser vistas em muitas paróquias e casas particulares e que é considerado um símbolo apocalíptico não reconhecido pela igreja católica.
Com a colocação das primeiras cruzes na diocese de Braga, D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, manifestou-se contra, alegando nada poder fazer, porque os objetos estavam colocados em terreno privado.
A fraternidade Missionária Cristo Jovem está instalada numa propriedade de quatro hectares, totalmente murada.
Um casal declarou ao JN que há cerca de cinco anos, uma jovem, entre os 18 e os 20 anos, daquela irmandade terá fugido da instituição saltando do muro e pedindo ajuda. "Ela entrou e pediu para ligar aos pais, mas eu olhei para a saia e perguntei-lhe se ela não era do convento. Ela disse que sim, e ligámos à mãe, que pediu para a guardarmos até ela chegar", contou o casal.