Ministério Público concluiu investigação a tiroteio em supermercado do Seixal e acusou apenas a mulher da vítima mortal, por coação e resistência. Um militar perdeu parte do intestino.
Corpo do artigo
Miguel Abreu, de 43 anos, morreu numa troca de tiros com a GNR, no parque de estacionamento do Intermarché de Fernão Ferro, no Seixal, em dezembro de 2020. O homem - pai de Clóvis Abreu, procurado pelo homicídio do jovem polícia Fábio Guerra - tirou a arma de serviço a um dos militares que tentavam detê-lo, dentro do Intermarché. E, empunhando a pistola semiautomática do militar, envolveu-se numa intensa numa troca de troca de tiros, que acabou no estacionamento da superfície comercial. Com a morte de Miguel Abreu e ferimentos em dois guardas, num dos casos com gravidade.
Esta reconstituição é feita a partir da informação recolhida pela Polícia Judiciária, que concluiu a investigação e levou o Ministério Público (MP) do Seixal a proferir recentemente despacho de acusação, que visa a mulher da vítima mortal, por crime de resistência e coação. A mulher, perante a presença dos dois militares, gritou ao marido: "Mata-os e foge!". Além disso, ainda impediu que Miguel Abreu fosse detido, quando os militares da GNR o abordaram e tentaram algemá-lo, dentro do Intermarché.
Dois tiroteios
Miguel Abreu era procurado, por ter por cumprir uma pena de prisão, por roubo em Setúbal, e por já ser suspeito de outros roubos, em Coruche.
Na tarde de 22 de dezembro de 2020, dois militares da GNR seguiram o suspeito e, pelas 18.30 horas, entraram no Intermarché de Fernão Ferro e abordaram-no para o deter. Segundo a acusação, a que o JN teve acesso, iniciaram a algemagem pelo pulso esquerdo de Miguel Abreu, quando a mulher deste começou a gritar "mata-os e foge!".
"Miguel Abreu esbracejou e empurrou os militares, até que conseguiu apoderar-se da pistola de marca Glock que um militar levava consigo", relata o MP. Com aquela arma, o homem começou a disparar. Um militar caiu e o segundo tentava imobilizá-lo. Mas, com a confusão instalada no Intermarché, a mulher de Miguel Abreu conseguiu que este fugisse: "Um militar tentava agarrar Miguel Abreu por trás, tendo a arguida Lisete Cabeça afastado" o mesmo. Nesse momento, Miguel Abreu atingiu o segundo militar no abdómen, entre o colete balístico e o cinturão, e pôs-se em fuga.
A mulher ainda conseguiu travar um dos militares, que estava no chão. "Quando se tentou levantar, foi impedido por Lisete Cabeça, que agarrou na sua pistola e empurrou-o", descreve o MP. Mas aquele acabou por se levantar e perseguiu Miguel Abreu até ao parque de estacionamento. Aqui, houve nova troca de tiros e Miguel Abreu foi abatido.
O militar ainda ainda foi atingido numa perna, mas só de raspão. Já o colega atingido no abdómen foi submetido a cirurgia e perdeu uma parte do intestino.
A mulher de Miguel Abreu vai ser julgada no Tribunal do Seixal.
Filho está em fuga por morte de polícia
15185389
Um dos três presumíveis autores das agressões fatais ao agente da PSP Fábio Guerra, à porta de uma discoteca de Lisboa, em março último, é Clóvis Abreu, filho do homem morto pela GNR, em 2020, no Seixal. Clóvis, porém, ainda não foi acusado do homicídio, ao contrário dos outros dois agressores, fuzileiros, porque fugiu e continua a monte. Apesar de o seu advogado, Aníbal Pinto, vir repetindo que Clóvis se entrega, se o MP marcar "lugar, dia e hora".