
Entre o armamento furtado e entretanto recuperado estavam poderosas armas antiblindados
Global Imagens/Arquivo
Polícia Judiciária deteve segunda-feira oito indivíduos suspeitos de terem participado diretamente no assalto aos paióis militares. As armas seriam destinadas à venda no estrangeiro.
É um grupo ligado ao tráfico de drogas, com ex-militares, que decidiu juntar às suas atividades criminosas o roubo de armas para as vender no mercado negro. Tancos foi um episódio. Os oito indivíduos detidos ontem pela Polícia Judiciária (PJ), terão sido liderados por João Paulino, o homem preso no âmbito do inquérito sobre a encenação da recuperação do armamento, que teria como destino compradores estrangeiros. Existem ainda suspeitas de que membros do grupo tenham participado no furto das 58 pistolas Glock de instalações da PSP.
A Unidade Nacional Contra Terrorismo (UNCT) da PJ lançou ontem a segunda fase da operação Húbris que, no final de setembro, levou à detenção de cinco elementos da Polícia Judiciária Militar (PJM), entre eles o ex-diretor, Luís Vieira, e de três militares da GNR de Loulé, para além de Paulino (ver perfil). O então líder da PJM e Paulino estão em prisão preventiva.
Foi este indivíduo que, através de outro arguido no processo, Paulo Lemos, conhecido como "Fechaduras", intermediou a entrega das armas à PJM, em outubro do ano passado, na Chamusca. Paulino era conhecido das autoridades por tráfico de droga e terá sido nesse mundo que foram recrutados os operacionais para roubar as armas de Tancos.
Material ficou na zona
Na noite de 27 de junho do ano passado, os elementos do grupo cortaram a rede de proteção da base militar, forçaram as fechaduras do paiol e retiraram caixas com armamento e munições. Um dos indivíduos, antigo militar, é suspeito de ter recebido dinheiro de Paulino para descrever ao pormenor a vigilância e a segurança dos paióis. Carregaram o material em carrinhas e levaram-no para uma propriedade da família de Paulino, a cerca de 30 quilómetros.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, os indivíduos indiciados por associação criminosa, furto, detenção e tráfico de armas, terrorismo internacional e tráfico de estupefacientes, já tinham estabelecido ligações com indivíduos estrangeiros para despachar o armamento. O grande mediatismo à volta do furto, com o poder político a exigir uma rápida resolução do caso, levaram-nos a recuar e manter as armas na zona de Tomar e, mais tarde, a negociar a sua entrega à PJM.
Só não entregaram as munições de 9 milímetros, que poderiam ser usadas em armas como as Glocks furtadas à PSP. A investigação ainda vai esclarecer qual o envolvimento do grupo no furto das pistolas da PSP, em Lisboa. Algumas dessas armas já foram apreendidas a indivíduos ligados ao tráfico de droga. Ontem, nas buscas realizadas nas zona de Aveiro, Quarteira, Albufeira e Tomar, nenhuma arma foi, no entanto, recuperada.
Um militar do Exército, notificado para ser ouvido com urgência, para já como testemunha, foi ontem levado para a PJ.
João Paulino. Ex-fuzileiro suspeito de tráfico
João Paulino, de 32 anos, é um antigo fuzileiro, natural de Albufeira. É apontado como tendo ligações ao tráfico de droga e de armas. Terá conhecido os outros detidos durante a juventude mas também no mundo das drogas e da noite onde terá explorado alguns negócios de diversão. É conhecido de um dos militares da GNR, também ele antigo membro da tropa especial, e que foi o seu contacto na encenação da recuperação das armas.
