Assembleia do F. C. Porto continuou apesar de diretor ter avisado que não havia segurança
O diretor de segurança do F. C. Porto revelou esta manhã de segunda-feira em tribunal que, logo após a primeira altercação, avisou a mesa da Assembleia Geral Extraordinária (AGE) de que não havia condições de segurança, mas nada foi feito e a mesma prosseguiu. A polícia nunca foi chamada.
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Carlos Carvalho explicou que só pelas 14.35 horas do dia 13 de novembro de 2023 é que o Arena foi colocado como possibilidade da realização do evento. Ainda ligou para a SPDE a pedir o reforço “possível” de vigilantes, mas não conseguiu reunir mais do que 18 elementos.
O diretor de segurança explicou que o plano de segurança foi elaborado e aprovado pela mesa da AGE. Havia um plano original (auditório para 200 pessoas) e um plano alternativo (tribuna presidencial para 700 ou 800). Só no dia da reunião magna do clube surgiu a possibilidade de deslocar o evento para o Dragão Arena e só às 20 horas é que se tomou a decisão de alterar o local. Questionado pela juíza sobre porque é que não foi feito um plano alternativo para o Arena mais atempadamente, Carlos Carvalho explicou que, “em momento algum, havia sido considerada essa possibilidade”.
Só conseguiu mais seis vigilantes
“O plano foi elaborado de acordo com uma determinada premissa” e, a partir do momento em que foi alterado, “houve imensas dificuldades”, justificou. Carlos Carvalho disse que contactou com a SPDE para “fazer o que pudessem” para aumentar o maior número de vigilantes. Em vez dos 11, 12 previstos, vieram 18 elementos. “Foi o que se conseguiu junto da empresa de segurança privada”, justificou.
Carlos Carvalho explicou ainda que a AGE teve início no auditório, porque, segundo lhe explicaram, “uma vez marcada para um local tem de começar ali e só depois pode ser alterado o local”. Quanto ao Arena, frisou que, dadas as suas características, o pavilhão “não foi preparado”, sendo que apenas foi necessário adaptar o sistema de som.
Carlos Carvalho contou que na noite da AGE recebeu uma chamada do comissário Pedro Rocha que estava preocupado com o número de pessoas na fila e respondeu-lhe que tinham o camarote preparado e que, se fosse preciso, iríamos para o Arena. “O comissário explicou que, para ser chamada a PSP, teria de ser feita através do presidente da Mesa ou por interposta pessoa”.
Nada foi feito após aviso de falta de segurança
Após a primeira altercação, quando várias pessoas saltaram da bancada central para a bancada norte, o diretor de segurança foi até à mesa, dirigiu-se a Hugo Nunes e disse “não estão reunidas as condições de segurança”, sem, contudo, fazer qualquer menção à PSP. Questionado pela juíza, admitiu que, apesar do seu aviso, “nada foi feito. Tentou levar-se a AG até ao final”.
O responsável explicou em tribunal que a organização da AGE partiu da mesa da Assembleia Geral, mas que só falou com o seu presidente, Lourenço Pinto, durante cerca de 10 minutos, ao início da noite do evento. O contacto com a mesa foi sempre através de Hugo Nunes, em termos formais, um elemento do departamento jurídico. Carlos Carvalho afiançou ainda que nunca discutiu a AG com Fernando Saúl, ex-oficial de ligação aos adeptos, e que Adelino Caldeira, ex-administrador do F. C. Porto, não teve qualquer intervenção na organização.
Também Tiago Gouveia, diretor de marketing, disse que Adelino Caldeira nunca esteve envolvido na organização e que as suas próprias responsabilidades na organização cingiram-se aos anúncios da convocatória, a imagem (bandeiras e mesa) e ainda ao sistema de som. O diretor de marketing revelou ainda que montou de véspera o som no Arena porque lhe disseram que havia a possibilidade de a assembleia se realizar ali. Por fim, Tiago Gouveia explicou que não se credenciou porque não quis ficar associado com o seu voto àquela AGE.
PSP antecipou ocorrência de conflitos
O responsável da Unidade Metropolitana de Informações Desportivas da PSP do Porto adiantou que, antes da AGE, tiveram a perceção de que iam estar presentes “muitos adeptos com opiniões diferentes sobre o clube” porque “pela primeira vez, em muito tempo, tínhamos um candidato que podia mudar alguma coisa, havia uma ideia de mudança”.
A perceção dos “spotters” da PSP do Porto era que “havia muitas pessoas que não estavam interessadas nessa mudança o que poderia gerar alguns conflitos”. “Havia muitos adeptos leais ao presidente”, frisou. Tiveram essa perceção, “era claro” e “aconteceu”, afirmou.
O comissário adiantou ainda que detetaram que, através das redes sociais, tanto os Super Dragões como André Villas-Boas estavam a apelar a uma grande participação de sócios na AGE e, através de um email interno, recomendou atempadamente aos superiores que houvesse um dispositivo policial preparado para atuar, pois tratava-se de um evento privado.
“Quando tenho na mesma sala, no mesmo espaço, pessoas ligadas ao futebol com opiniões diferentes, isso gera problemas. Foi isso que tentei transmitir”, explicou o comissário.
Villas-Boas e João Borges não entraram por falta de segurança
João Borges, atual vice-presidente do F. C. Porto, foi com André Villas-Boas para a AGE mas não chegaram a entrar porque não havia condições de segurança. Questionado sobre se viu alguma altercação, o dirigente disse que não. “Havia alguém a falar muito alto junto do André Villas-Boas e Bruno Branco puxou-o para o lado”, explicou, desvalorizando o episódio.
O vice-presidente disse que, após a AGE, viu que tinha uma chamada não atendida e uma mensagem de Henrique Ramos, um dos sócios agredidos. Pelas 3 ou 4 horas da manhã, mandou-lhe uma mensagem a perguntar se estava acordado e se lhe podia ligar. Falaram, com interrupções, durante “cerca de 15 ou 20 minutos”, em alta voz, com André Villas-Boas ao seu lado. “O André perguntou-lhe se ele estava bem”, afirmou.
Ainda antes da segunda AGE, João Borges enviou uma mensagem a Henrique Ramos a perguntar se “ia pegar fogo à AGE?”. Questionado sobre o motivo de tal mensagem, João Borges explicou que Henrique Ramos tinha dito que ia confrontar Adelino Caldeira e Fernando Gomes (ex-membros da direção) e queria saber se sempre o iria avançar com o prometido.