Assembleia Geral do F. C. Porto: "Estávamos aterrorizados a ser enxovalhados e ninguém fez nada"
Um dos primeiros sócios a chegar à entrada do P1 na noite da Assembleia Geral Extraordinária do F. C. Porto contou ao tribunal, na sessão desta terça-feira do julgamento da Operação Pretoriano, que viu dezenas de pessoas a passar à sua frente e ouviu Vítor Catão a insultar sócios e jornalistas num carro.
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No interior do auditório, António L., de 76 anos, sentiu um clima de medo e intimidação e confessou que nem foi para o pavilhão porque a neta “tremia como varas verdes”. “Estávamos aterrorizados a ser enxovalhados”, descreveu.
António foi dos primeiros a chegar ao P1, com a neta, uma sobrinha e três amigos, um dos quais Bruno Branco, agente da PSP. Ainda cá fora, no passeio, viu Vítor Catão, que conhecia dos vídeos no Facebook, “a disparatar para tudo quanto era lado”. Chamou a polícia porque viu “aquilo mal parado”. Catão estava a insultar e a dizer “ides morrer, ides morrer!”. Insultos que voltaram a ser repetidos por outras pessoas, já dentro do auditório. Todos os que ficavam sentados enquanto eram entoados cânticos ouviam: “quem não se levanta é do Villas-Boas. Ides morrer!”.
O empresário, que nas décadas de 80 e 90 esteve ligado à formação do hóquei e do futebol juvenil, recordou que também viu Catão a insultar um carro da comunicação social, encostado ao vidro da viatura. Ainda na entrada da garagem, rebentaram três petardos e “foi o pânico geral”. Apesar de ser dos primeiros da fila, passaram pelo grupo de António “dezenas de pessoas”. Viu Fernando Madureira “a dar papelinhos, a dar cartões de sócio e a dar pulseiras”. Ainda se foi queixar a um segurança, mas ele justificou que tinham chegado antes.
“Era óbvio que eram Super Dragões”
Quando entrou no auditório, “já estava cheio de gente encostada à parede”. Parecia um circo, estavam aos gritos e aos insultos e o Fernando “devia ter pedido calma às pessoas porque era o líder”. Porém, esclareceu que apenas ouviu o ex-líder da claque a dar o mote para os cânticos e que não o ouviu a insultar ninguém, ao contrário de outras pessoas que diziam “vais morrer, seu filho da p***, na direção de todos que aqueles pensavam que eram potenciais apoiantes de Villas-Boas”. Questionado sobre se como é que sabia que eram da claque, respondeu que “era óbvio que eram Super Dragões”. Porém frisou que não estava ali para os condenar até porque, “se calhar, fizeram mais pelo clube que a administração”.
“Sobretudo condeno a administração, todos os órgãos sociais do clube que foram incapazes de um só ato para por termo àquilo que foi absolutamente inadmissível. Não fizeram rigorosamente nada. Estávamos aterrorizados, a ser enxovalhados e ele não fizeram nada. Foi um clima mesmo de medo, ao ponto de eu já não ter ido sequer para o pavilhão. A minha neta estava em pânico e tremia como varas verdes. Não ia sujeitá-la aquele pesadelo”, criticou o sócio de 75 anos.
Foi uma coisa montada pela administração de Pinto da Costa
Para António, que foi um dos criadores de uma página de apoio a Villas-Boas e era membro suplente da lista para o Conselho Superior da lista do atual presidente, "é óbvio" que foi tudo organizado. “Foi uma coisa montada pela administração de Pinto de Costa. Não tenho a menor dúvida. Se não tivesse autorizado aquele circo, ninguém o ia fazer. Os Super Dragões foram o peão de quem estava mais acima. Não acredito que alguém tivesse feito aquilo sem ter recebido instruções”, afirmou.
“Estava orquestrado, porque enquanto eu estava na fila passaram N dirigentes do clube e fizeram zero. Quem tinha responsabilidade de fazer algo não fez nada”, reforçou. Questionado sobre nomes em concreto, António preferiu não responder para não dar voz a rumores ou suposições. “A quem é que interessava a aprovação dos estatutos?”, retorquiu o empresário.
Disse que ainda antes de entrar no auditório abordou o então presidente da mesa da Assembleia Geral, Lourenço Pinto. “Disse-lhe que não havia condições. Que havia milhares de pessoas cá fora e que estavam a entrar dezenas de pessoas que não eram sócios”, contou. Lourenço Pinto pediu-lhe provas e ele desistiu. “Queriam intimidar os sócios para aprovar a alteração dos estatutos”, explicou.