A GNR de Viseu, através do Núcleo de Investigação Criminal, pôs fim a um esquema com mais de 20 anos de peditórios falsos. A Operação "Scheme" decorreu ao longo dos últimos cinco anos.
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“Os suspeitos funcionavam em rede, altamente móvel, em todo o território nacional e utilizavam elementos fraudulentos para se fazerem passar por outras pessoas e entidades de solidariedade social”, começou por explicar o Comandante do Destacamento Territorial da GNR de Viseu, esta manhã aos jornalistas. Na maioria das vezes fizeram passar-se de bombeiros mas, também, pela Associação de Apoio a Pessoas com Cancro.
O tenente João Gomes acrescentou que se deslocavam para locais “de elevada afluência, detetavam potenciais vítimas deste sistema de burla e, para tal, utilizavam rotundas, cruzamentos e entroncamentos”.
Em algumas situações, chegaram a ameaçar, coagir e agredir as vítimas que não cediam ao pedido de donativo.
O esquema estendeu-se por todo o país ao longo dos últimos 20 anos e fez milhares de vítimas. “Foram várias pessoas, de várias idades, não há uma tipologia de vítima e incluía muita população”, esclareceu o comandante.
A investigação começou em 2020 e teve origem em vários alertas de vítimas, corporações de bombeiros e, sobretudo, em relatos publicados nas redes sociais. A GNR já concluiu que alguns dos líderes do esquema são naturais de Viseu.
Disfarçados de bombeiros
O modus operandi dos burlões, que lhes rendeu milhares de euros, era o seguinte: um pequeno grupo de três a quatro pessoas, totalmente fardados de vermelho ou apenas de colete vermelho, onde nas costas se podia ler “Associação Portuguesa de Combatentes da Guerra”, abordavam os automobilistas, que eram obrigados a parar. Depois, pediam-lhes um donativo para a compra de uma ambulância da corporação de bombeiros local ou vendiam-lhes rifas, cujo valor angariado no sorteio reverteria para os bombeiros.
Nas ações de vendas de rifas, quando abordados por alguma força policial, estavam autorizados ao abrigo de um concurso publicitário autorizado pela secretaria geral do Ministério da Administração Interna.
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Dez arguidos
Foram constituídos arguidos oito homens, entre os 24 e os 65 anos, e, ainda, duas entidades coletivas pelos crimes de burla qualificada, branqueamento de capitais e associação criminosa. A Associação Portuguesa de Veteranos de Guerra é suspeita de dar cobertura ao esquema e foi constituída arguida.
30 mil euros apreendidos
No dia de ontem, 68 militares da GNR levaram a cabo 20 mandados de busca em Moimenta da Beira, Braga, Magoito, Amadora, Queluz, Agualva-Cacem, Loures e Pombal, onde apreenderam perto de 30 mil euros, dezenas de artigos de vestuário e bens associados a instituições de solidariedade, seis telemóveis, um tablet, dois computadores, extratos de transferências e de depósitos bancários (alguns internacionais) e, ainda, cartões de identificação.