Atacada pelo ex-namorado. "Apontou-me a pistola à cabeça e deu-me um tiro por trás"
O Tribunal de Viseu começou a julgar, na tarde desta quarta-feira, um homem, de 44 anos, acusado de disparar cinco tiros com a intenção de matar a ex-companheira, de 42 anos. A tentativa de homicídio ocorreu a 5 de maio, ao final da tarde, em Cambres, no concelho de Lamego.
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Abílio Oliveira e Rosa Silva mantiveram uma relação durante mais de quatro anos, até que a mulher o expulsou de casa. No calor uma discussão, disparou cinco tiros sobre a mulher e atingiu-a na cabeça, no pescoço e num ombro.
A vítima teve de ser transportada de helicóptero para o Hospital de Gaia, onde esteve internada uma semana, e continua com uma bala alojada num ombro. Os médicos disseram-lhe que sobreviveu por milagre.
O arguido está acusado dos crimes de homicídio na forma tentada, detenção de arma proibida, violência doméstica agravada e ofensas à integridade física.
Na primeira sessão do julgamento, que decorre no Tribunal de Viseu, Abílio Oliveira, recusou prestar declarações.
Já a vítima, Rosa Silva, assistente no processo, respondeu às questões da juíza presidente, da procuradora e dos advogados durante cerca de uma hora e meia. Lembrou a relação abusiva em que vivia, os constantes insultos de que era algo e a uma agressão com uma sachola de que foi alvo quando estava grávida de seis meses de um filho que teve com o arguido. Na altura expulsou-o de casa, mas, alguns meses depois, voltou a acolhe-lo.
"Ele tinha ciúmes doentios", contou a mulher. "Qualquer coisa era motivo de ciúmes. Não podia falar com telefone, dizia que era uma vadia, uma p***, que lhe andava sempre a por os cornos".
Rosa Silva recordou ainda o dia em que foi baleada. Explicou que questionou o então companheiro, agricultor de profissão, por este ter pedido dinheiro adiantado aos patrões "sem ajudar nas despesas da casa".
"Houve uma troca acesa de palavras, a discussão começou a aquecer e eu disse-lhe para sair de casa. Ele disse-me que o filho não era dele e chamou-me de p**** e vadia", vincou.
Rosa referiu que, ao ser insultada, começou a acartar as coisas do companheiro para a carrinha dele.
"Quando voltei, ele apontou-me a pistola à cabeça e deu-me um tiro por trás", adiantou, acrescentando que, a seguir, foi baleada mais duas vezes. Só mais tarde soube que ele tinha feito cinco disparos no total.
Afirmou que, após o primeiro tiro, ainda conseguiu pedir ajuda à filha e à mãe que estavam nas proximidades.
A filha foi agredida pelo arguido com uma vassoura, mas Rosa já não viu nada disso.
Após ser alvejada, só pensava no filho bebé que estava a chorar.
"Senti que estava a perder a vida. Não esperava um ataque daqueles. Pensei que tinha perdido a orelha e que naquele momento não podia fazer nada", declarou.
Rosa acrescentou que ainda hoje sente as mazelas do ataque de que foi alvo. Queixa-se de dores de cabeça, de um zumbido. Garantiu que nunca vai ficar a 100%. Mesmo com o arguido preso preventivamente tem medo que alguma coisa lhe possa acontecer.
O ex-companheiro já cumpriu pena pelos crimes de violência doméstica e ofensas à integridade física. A vítima foi a ex-mulher. Rosa Silva garantiu em tribunal que quando começou a relacionar-se com o homem desconhecia estes factos. Só alguns meses mais tarde de estarem a viver juntos é que descobriu.