Vítima e vizinhos ocupavam casas devolutas em Almada e mantinham conflito que terminou com emboscada.
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Tiago Gonçalves, de 24 anos, estava em casa, sexta-feira à noite, e foi atraído à rua por dois vizinhos que, tal como ele, ocupavam habitações abandonadas na Sobreda da Caparica, freguesia periférica de Almada. Logo que saiu à porta, foi esfaqueado no abdómen e nas costas. Ainda se arrastou até a um pátio interior, onde desfaleceu, junto à companheira. "Já me mataram", disse, em agonia.
O crime ocorreu perto das 23.30 horas, junto ao n.º 50 da Rua Quinta do Perfume, uma via de terra batida, com moradias que ficaram devolutas e foram ocupadas por pessoas sem abrigo.
Há cerca de ano e meio, Tiago Gonçalves mudou-se, com a companheira, de Lisboa para uma daquelas casas. Mas o servente de pedreiro, com fracos rendimentos, desentendeu-se com dois toxicodependentes que residiam a dezenas de metros e que uma irmã da vítima apontou ontem como principais suspeitos do homicídio.
"Recebi o telefonema da minha cunhada a dizer o que tinha acabado de acontecer e vim logo para aqui. Quando estava a chegar, vi os dois [suspeitos] que acho que foram os que cometeram o crime e tentaram partir-me o carro", descreve.
Defendia vizinhos idosos
Apesar das manobras de reanimação realizadas pelos Bombeiros de Cacilhas, o óbito de Tiago foi declarado no local, pela equipa da Viatura Médica de Emergência e Reanimação do Hospital de Almada, para onde o corpo seria transportado, a fim de ser autopsiado.
Tiago Gonçalves era natural do Lumiar, Lisboa, e mudara-se para a Sobreda da Caparica, onde, segundo familiares, fazia questão de ser um bom vizinho. "O Tiago defendia os idosos que eram alvos de assaltos e distúrbios por um grupo de toxicodependentes e nunca virava as costas a uma luta", conta o cunhado.
Na noite do crime, foi emboscado. "Eles começaram a fazer barulho ao redor da casa, a provocá-lo, e num primeiro momento não veio para fora, a companheira não deixou. Mas eles deram a volta à casa, atiraram coisas para o pátio e ele acabou por sair. Foi logo golpeado e voltou para dentro de casa, onde disse "já me mataram"", contou a irmã.
A PJ de Setúbal investiga o crime e tenta apurar a identidade e localização dos suspeitos. Até ontem à tarde, não tinha sido anunciada qualquer detenção. v