Dez pessoas, incluindo uma criança, assassinadas em contexto de intimidade no primeiro semestre. Há mais 98 agressores presos do que no ano passado.
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Desde o início do ano morreram dez pessoas em contexto de violência doméstica: sete mulheres, dois homens e uma criança. No segundo trimestre houve cinco vítimas mortais, menos duas do que as registadas em igual período no ano passado, revela o gabinete da ministra de Estado e da Presidência.
Segundo o relatório divulgado quarta-feira referente ao segundo trimestre de 2020, entre abril e junho foram registadas mais 570 queixas de violência doméstica do que no trimestre anterior. Porém, mesmo assim são menos 454 queixas (6,2%) do que as 7382 registadas no período homólogo de 2019.
O número de reclusos por crimes relacionados com violência doméstica aumentou mais de 10% no último ano. A 31 de junho havia 1064 reclusos contra os 966 de 31 de junho de 2019, dos quais 847 cumpriam pena efetiva e 217 encontravam-se em prisão preventiva.
agressores afastados
Ainda relativamente a medidas de coação, verifica-se que o afastamento obrigatório decretado na sequência de crimes de violência doméstica subiu de 570 para 738, sendo que a grande maioria (579) estava sujeita a monitorização por pulseira eletrónica. Também o número de vítimas abrangidas pela teleassistência - o "botão de pânico" - aumentou 30,1%, tendo passado de 2774 para 3608.
Em sentido inverso, o número de pessoas em situação de acolhimento devido ao crime de violência doméstica baixou 24,4% (de 2161 para 1634) no primeiro semestre do ano relativamente ao período homólogo de 2019: menos 20,1% de mulheres (1135 para 907) e menos 27,1% de crianças (997 para 727).
UMAR conta 20 femicídios
Vinte mulheres foram assassinadas desde o início do ano em Portugal, registando-se ainda 29 tentativas de femicídio, 25 das quais em relações de intimidade. A contabilização é do Observatório das Mulheres Assassinadas (OMA). De acordo com este grupo de trabalho da União de Mulheres Alternativa e Resposta (UMAR), em 2020 já terão ocorrido dez "femicídios íntimos" - associados a relações de intimidade atuais, passadas ou pretendidas - e dez em outros contextos, por motivos financeiros, na sequência de assalto ou outros.
Cátia Pontedeira, do OMA, explica que, das 25 tentativas de femicícios íntimos, "mais de metade ocorreu já após o período de confinamento obrigatório, entre junho e agosto" na sequência da pandemia de covid-19.
Segundo a nota divulgada, "estes dados revelam a urgência de um investimento numa análise sobre o femicídio e a sua tentativa a partir de um olhar especializado e aprofundado, para prevenir futuros assassinatos". O OMA acentua ainda a importância de informar as vítimas das ajudas que têm à sua disposição e incentivá-las a procurar apoio.