O Ministério Público (MP) de Gondomar acusou 48 pessoas de tráfico de estupefacientes. Vários dos arguidos estão também acusados de outros crimes, incluindo de associação criminosa.
Corpo do artigo
Segundo a acusação, pertenciam a células criminosas que atuavam de modo cooperativo no Grande Porto. Um dos pontos de venda, no Bairro do Viso, faturou quase um milhão de euros em apenas um mês.
A investigação da PSP e o MP apontam nove líderes, quatro dos quais mulheres. Eram eles quem tratava dos aspetos principais do negócio, como o recrutamento, os preços e os métodos de venda. E não tinham qualquer problema em colaborar entre si. Quando havia escassez de estupefacientes, aqueles que tinham "stock" cediam-no - muitas vezes à consignação - para que os outros não perdessem a carteira de clientes.
Vendiam haxixe, canábis, heroína e cocaína. As áreas de atuação estavam bem definidas. Havia células em Gondomar, nos bairros do Viso, da Fonte da Moura e da Pasteleira, no Porto, e ainda em Lavra e em Custóias, Matosinhos. A investigação destaca a banca do Viso, ligada a 22 arguidos, como uma das mais relevantes.
O posto de venda, num prédio de dois andares na Rua Central do Viso, funcionava diariamente das 9.00 à 1.00 hora. Tal como uma loja normal, às 17.30 horas fazia-se uma troca de turno. Diariamente, atendia centenas de toxicodependentes vindos de todo o país
Parecia a feira da Vandoma
Numa das conversas intercetadas, um "trabalhador" pergunta a um dos líderes se não vai abrir a banca e avisa que aquilo já parece a feira da Vandoma. A acusação contabiliza que, entre 5 de junho e 8 de julho do ano passado, a banca do Viso faturou 960 774 euros.
Outra célula que se destaca operava em Custóias e era quase totalmente familiar. A líder era uma mulher de 29 anos, com a alcunha de "Di", coadjuvada pelo companheiro, o irmão, a irmã e até os sogros. Segundo a acusação, a droga era vendida na casa da irmã e os sogros, além de lhe emprestarem dinheiro para comprar estupefacientes, usavam os seus vastos contactos familiares para fazer prospeção de mercado e descobrir onde é que se podia encontrar haxixe à melhor relação de qualidade-preço.
Também as outras células procuravam afincadamente bom produto e a bom preço, mudando frequentemente de fornecedor. Numa só viagem de prospeção, um dos líderes do grupo do Viso foi a Madrid e depois a Cádis. Acabou a comprar haxixe no Algarve. E, várias vezes, após regressarem avisavam os parceiros de que tinham produto em conta, caso quisessem aproveitar.
A acusação, de 30 junho, mostra que o MP não tem dúvidas de que as diferentes células se interligavam e se apoiavam para melhor conseguirem prosseguir os seus objetivos criminosos e obter o máximo de rendimentos com a venda de estupefacientes.
À lupa
Taxista angariador
Um arguido aproveitava-se da sua profissão de taxista para angariar toxicodependentes que pretendessem cocaína e fornecia-lhes produto das células de Gondomar e do Viso
Dois estafetas
Dois dos elementos do grupo de Gondomar, que operava a partir de um café em S. Cosme, eram estafetas de uma pizaria e usavam essas funções para camuflar o transporte de droga
Família e namoradas
Vários dos líderes usavam o dinheiro da droga para comprar viaturas a pronto pagamento, que depois registavam em nome de familiares seus ou das companheiras.