
Arguido por seis crimes de incêndio era voluntário nos Bombeiros de Alfândega da Fé
Rui Manuel Ferreira / Global Imagens
Relação de Guimarães agrava medida de coação de subchefe de Alfândega da Fé, que foi libertado. Incendiava para se destacar a apagar e ser promovido.
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O Tribunal da Relação de Guimarães agravou a medida de coação de um bombeiro de 39 anos, subchefe da corporação de Alfândega da Fé (distrito de Bragança), que foi detido pela Polícia Judiciária de Vila Real, em setembro do ano passado, por ter ateado seis grandes incêndios na região.
O bombeiro estava a aguardar julgamento em liberdade, com apresentações diárias às autoridades, mas vai para prisão domiciliária com pulseira eletrónica. Ateava fogos "para se evidenciar no campo de operações e ascender na hierarquia dos Bombeiros", acreditam os juízes.
O homem, atualmente suspenso das funções de bombeiro, está fortemente indiciado de ser o autor da ignição de seis grandes incêndios, ocorridos a 22 e 28 de junho, 3 de agosto e 2 de setembro de 2019, sempre em Alfândega da Fé. Os fogos causaram grande sobressalto à população local, além de milhares de euros de prejuízos e danos ambientais.
Ao todo, nos seis incêndios, arderam cerca de 100 hectares de mato, floresta e terrenos agrícolas, aos quais se somam gastos com o combate aos incêndios avaliados em dezenas de milhares de euros, pois foram utilizados 108 meios de combate, incluindo viaturas de bombeiros, meios aéreos e máquinas de rasto, para além de 389 bombeiros empregues no combate aos mesmos, que demoraram 107 horas no seu conjunto extinguir. No maior incêndio, os bombeiros estiveram 46 horas seguidas em combate.
Comandava no terreno
O subchefe está fortemente indiciado de ter praticado aqueles factos "para se evidenciar no campo de operações e ascender na hierarquia dos bombeiros", ateando os fogos "em períodos temporais nos quais lhe fosse possível ser comandante operacional de socorro", entendem os juízes desembargadores do Tribunal da Relação de Guimarães.
Assim, o homem vai aguardar julgamento em prisão domiciliária com pulseira eletrónica por dois motivos.
O primeiro é o perigo da continuação da atividade criminosa, que é "incontroverso", expressa o tribunal vimaranense. Desde logo pela personalidade "propensa à prática de crimes de incêndio", mas também porque os ateou de forma "egoísta para poder subir na hierarquia dos bombeiros".
O segundo motivo para o agravamento da medida de coação prende-se com o perigo de perturbação da ordem e tranquilidade públicas.
Segundo o tribunal, a circunstância de ser um bombeiro a atear um fogo é causadora de "profunda desilusão" nas populações, para além de "desassossego, de intranquilidade e de alarme - já para não falar de perigo para o próprio - tanto mais quanto os factos ocorreram num local em que todos se conhecem".
Pormenores
Até 12 anos de prisão
O inquérito está a ser coordenado pelo Ministério Público de Vila Real, que ainda não deduziu acusação. Segundo o Código Penal, cada um dos seis crimes de incêndio tem uma moldura penal que vai de três a 12 anos de prisão.
Porteiro na escola
O subchefe era bombeiro voluntário e exerce a profissão de auxiliar de ação educativa, porteiro, numa escola do concelho de Alfândega da Fé. É casado e tem dois filhos, um com 14 anos e outro com 18 meses.
Sem antecedentes
Segundo o acórdão da Relação de Guimarães, o arguido não tem qualquer antecedente criminal. Está, contudo, suspenso das funções de bombeiro por ordem do tribunal.
