Uma mulher está a ser julgada no Tribunal de Braga por, alegadamente, ter encomendado o rapto do próprio marido. Mas a vítima, que os sequestradores iriam agredir e deixar nu na Serra do Gerês, disse aos juízes não acreditar ter sido a esposa a contratar o crime. O homem só não foi para a Serra porque conseguiu saltar de um carro em andamento, a alta velocidade, a 8 de outubro de 2020.
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O depoimento do marido foi o facto mais saliente do julgamento, que começou na semana passada com o principal executor do rapto a confessar o crime ao pormenor. Alguns dos outros seis arguidos, detidos no ano passado, também assumiram responsabilidades.
O marido, Paulo Costa, de 39 anos, admitiu que a relação conjugal teve problemas antes do rapto, cometido durante a noite, a cerca de 200 metros da Polícia Judiciária de Braga. A esposa, Liliana Alves, de 42 anos, terá descoberto que o marido "andava com putinhas", apercebendo-se do alegado pagamento prévio de serviços sexuais, estabelecidos através da rede social Instagram.
A vítima admitiu casos extraconjugais, "mas nunca com mulheres que soubesse serem casadas", explicou à juíza-presidente, após a magistrada lhe ter perguntado se não tinha conhecimento que também a esposa manteria um relacionamento, com o principal executante do rapto, João Romero, de 23 anos. Este jovem é um dos dois arguidos em prisão preventiva. O marido também respondeu "não acreditar".
O primeiro arguido a ser ouvido, João Romero, começou por negar o crime, mas acabaria por explicar detalhadamente o rapto. Ia ganhar 1200 euros, que seriam distribuídos pelos outros seis suspeitos. Porém, nunca recebeu o dinheiro e passou por isso a ameaçar a mulher da vítima. Conseguiu obter 100 euros, relativos às "despesas".
João Romero, o principal arguido entre os executantes do rapto, fez uma confissão integral e sem reservas, dizendo ter sido "coagido" pela mulher da vítima a cometer o sequestro, "depois de ter mantido relações sexuais com ela". Alegou ainda aos juízes que se ele "não o raptasse, ela [mandante] garantiu que fazia queixa de mim por violação e tive medo, pelo que avancei logo para o rapto, com dois carros".