O burlão Valdemar Castro cumpre 12 anos de cadeia e está a ser de novo julgado por fraudes. Está a tirar um mestrado na prisão.
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Valdemar Castro, 46 anos, que ficou conhecido como o "burlão das notas de 50 euros", por enganar dezenas de comerciantes, voltou a sentar-se no banco dos réus, em Famalicão, esta semana, agora por crimes de falsidade informática cometidos em 2015, com o seu irmão, que está em parte incerta há anos. Mas enviou um email ao tribunal a informar que não poderia estar presente. Valdemar cumpre uma pena de 12 anos e, na cadeia, vai fazer um mestrado em Psicologia, depois de ali já ter completado uma licenciatura em Ciências Sociais.
Estava acusado de vários crimes de burla informática consumada e tentada e falsidade informática nos mesmos moldes. Do processo original, a maioria dos lesados desistiu da queixa, pelo que o procedimento criminal quanto ao crime de burla informática extinguiu-se.
44 vítimas lesadas apenas num dos processos, julgado em Gaia, em que Valdemar foi arguido. Acabaria condenado a oito anos de cadeia em novembro de 2016
Os crimes foram praticados num café em Paredes e num quiosque em Famalicão, usando o sistema "Paysafe". Com este método de pagamento disponível em payshops, os clientes solicitam a emissão de um talão com um determinado montante, que liquidam na altura, e um código associado, para usarem em compras. Era o que Valdemar e o irmão faziam, segundo a acusação, embora nunca chegassem a pagar o crédito pedido. Em vez disso, fotografavam os talões e usavam-nos para comprar artigos online, antes de as vítimas darem pela burla e anularem os talões e códigos emitidos. Nos dois casos agora julgados, o prejuízo foi de 200 euros.
Perante o coletivo de juízes do Tribunal de Guimarães, Valdemar admitiu ter pedido os cartões que o irmão fotografava para poder usar os códigos, mas disse não saber como este fazia informaticamente a burla e que recebia 50 euros por cada talão.
No início do seu depoimento, o arguido justificou que estes crimes se reportam a "um período difícil da sua vida". "Depois do falecimento da minha mulher, não soube lidar com a situação, fui influenciado por más companhias e reincidi nos consumos de droga", afirmou. Disse aos juízes que já não consome. "Ressarci os lesados e pedi desculpa", acrescentou, dizendo-se arrependido.
O fato de ter pago aos lesados, com o apoio da família, já que está detido e não tem rendimentos, foi, aliás, um aspeto evocado pela defesa. "Depois de quatro anos de reclusão, está consciente e arrependido, e já conseguiu licença para fazer um mestrado em Psicologia", notou a advogada. Valdemar já é formado em Engenharia Civil e terá tirado uma licenciatura em Ciências Sociais durante o tempo em que tem estado preso, na cadeia de Paços de Ferreira
Valdemar foi condenado, em cúmulo jurídico, em novembro do ano passado, por golpes em 37 cafés e restaurantes, mas também pelo crime de desobediência, resistência às autoridades e condução perigosa, durante uma fuga de carro à Polícia de que resultou a sua detenção, em 2016, em Gaia, após ter-se despistado.
Método
Bem vestido e asseado
Valdemar atuava sempre da mesma maneira. Bem vestido e asseado, entrava nos estabelecimentos quase sempre a falar ao telemóvel e pedia sandes mistas ou pregos no pão para levar, manifestando intenção de pagar com uma nota de 50 euros. Sempre fingindo estar ocupado distraía os comerciantes e acabava por levar a nota e o troco.
Irmão e namorada
Fez dezenas de vítimas principalmente no Norte do país, muitas vezes com o irmão, que nunca foi detido, e a namorada que o acompanhava na fuga em que a Polícia o apanhou.