Um alto quadro de um banco chinês fugiu para Portugal após ter arrecadado mais de dez milhões de euros com uma burla. Durante oito anos, viveu uma vida de luxo entre o Montijo e Lisboa, mas, na quarta-feira, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ), quando saía de casa para levar os filhos ao colégio privado.
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No final de 2016, o bancário, de nacionalidade chinesa e agora com 49 anos, recebeu na sucursal na qual ocupava o lugar de assistente do diretor, um empresário local interessado em contrair um empréstimo para suportar um investimento avultado. Rapidamente, convenceu o cliente com a promessa de uma taxa de juro abaixo do valor de mercado e o processo seguiu os trâmites normais.
Contudo, quando o banco autorizou o empréstimo, o funcionário não entregou o dinheiro ao empresário, antes transferiu os mais de 84 milhões de yuan (cerca de 10,7 milhões de euros ao câmbio atual) para uma conta por si controlada. A burla seria descoberta quando o empresário foi contactado pelo banco para pagar as prestações em atraso e explicou que nunca pôs as mãos nos mais de dez milhões de euros. Mas, nessa ocasião, o bancário já tinha fugido da China.
Casa em condomínio fechado, filhos em colégio privado
O burlão escolheu Portugal como refúgio e abriu uma empresa em Lisboa para obter o visto de residência que lhe permitiu residir no país de forma legal. Essa firma, no entanto, nunca teve qualquer atividade e revelou-se ser apenas uma fachada para justificar a presença do chinês em Portugal.
Ao longo de oito anos, o burlão, a quem não era conhecida qualquer profissão, viveu uma vida de luxo paga com os mais de dez milhões de euros que lucrou com o esquema criminoso. Residia, com a esposa, num condomínio fechado do Montijo e a sua principal tarefa diária era transportar os dois filhos menores ao colégio privado que ambos frequentavam, no Parque das Nações, em Lisboa.
A fuga idílica começou a desmoronar-se no final do ano passado, quando as autoridades chinesas emitiram um alerta internacional em seu nome. Pediam a sua detenção com base numa acusação de burla e o nome do fugitivo destacado na “red notice” foi sinalizado entre os estrangeiros registados em Portugal.
Os inspetores da Unidade de Informação Criminal da PJ foram, então, à sua procura na morada que o chinês tinha indicado no processo para a obtenção da autorização de residência. Porém, no local referenciado encontraram apenas as instalações da empresa de fachada.
Escapa a prisão perpétua se for extraditado
As diligências efetuadas desde essa altura permitiram descobrir a residência do fugitivo e, na manhã de quarta-feira, detê-lo quando ia levar os filhos ao colégio privado. Já nesta quinta-feira foi levado ao Tribunal da Relação de Lisboa para ser interrogado e ficar a conhecer a medida de coação.
Caso o juiz autorize a sua extradição para a China, o burlão enfrenta uma acusação cuja moldura penal poderá chegar à pena de prisão perpétua. Mas, se vier a ser condenado, cumprirá no máximo 25 anos de cadeia, porque, segundo a legislação, Portugal só autoriza extradições se o país de acolhimento não aplicar penas de morte ou perpétua e se comprometer a, no pior dos cenários, condenar o extraditado à pena máxima do Código Penal nacional: 25 anos de prisão.