Dos 21 arguidos presentes na manhã desta quarta-feira no Tribunal de Leiria, para responderem por burlas através da aplicação Mb Way, apenas um quis prestar declarações, para se demarcar do esquema que lesou pessoas de todo o país, em milhares de euros.
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“O meu grande erro foi ter disponibilizado o NIB da minha conta a uma pessoa conhecida, o Orlando [também arguido neste processo], para ele ou alguém conhecido dele comprar uma viatura”, declarou Carlos Casaca, perante o coletivo de juízes que vai julgar crimes de burla qualificada ou simples, falsidade informática, burla informática e acesso ilegítimo.
O arguido, que tem outro processo em tribunal, contou que aceitou que fossem depositados na sua conta cinco mil euros, em duas parcelas de 2500, que depois entregou a pessoas que não conhecia “de lado nenhum”, na presença de Orlando, de cujo cunhado era amigo.
Pelo favor prestado a Orlando, Carlos Casaca recebeu uma “comissão” de 200 euros. “Aceitei por me encontrar numa situação de baixa” e por estar “com rendimentos abaixo da média”, explicou.
Desempregado, o arguido disse que descobriu que estava envolvido em burlas após o alerta de um funcionário do banco, e disse nem sequer ter Mb Way. Antes de sair do tribunal, acompanhado por um agente da PSP, pediu ao presidente do coletivo para ser dispensado de assistir às sessões de julgamento.
Ouvidos cinco lesados
Durante a sessão da manhã, foram ouvidas ainda seis testemunhas, cinco das quais lesadas, que tinham em comum o facto de não conhecerem a aplicação Mb Way, terem concordado em seguir as instruções dos burlões, e ter sido levantado dinheiro da sua conta indevidamente.
Júlio Parreira, de São Brás de Alportel, em Faro, contou que o homem que o contactou a dizer que queria comprar uma mesa de bilhar, com tacos e bolas, que tinha à venda no OLX por 650 euros, disse que o ia ajudar para receber o dinheiro.
“Inseri o cartão multibanco, e ele ia dando dados”, relatou Júlio Parreira, um dos quais o número de telemóvel do criminoso. “No fim, ele disse: ‘já está’”, referiu. Pouco tempo depois, foi consultar a conta e constatou que “ficou a zeros”, pois desapareceram 20 mil euros.
Ricardo Santos, enfermeiro de Almada, caiu na mesma armadilha. A pedido do pai, idoso, pôs à venda no OLX alfaias agrícolas, e foi contactado por um homem interessado em comprá-las, que “nem discutiu o preço”, e disse que tinha dificuldade em ir ao multibanco fazer a transferência.
O enfermeiro concordou em dirigir-se a uma caixa multibanco e em seguir as indicações do alegado comprador, entre as quais introduzir um número de telemóvel que lhe comunicaram. “Disse que dentro de uma hora teria o dinheiro na minha conta. Comecei a raciocinar, desconfiei, fui ao computador ver a minha conta bancária, e verifiquei que o meu dinheiro tinha desaparecido”, contou. No total, perdeu 7150 euros.
As outras três testemunhas foram burladas da mesma forma. Lázaro Lopes pôs à venda no OLX uma Renault 4L, e ficou sem 2140 euros, José Medeiros queria vender um Volkswagen Passat, e foi burlado em 300 euros, e Joaquim Ferreira viu desaparecer “apenas” 400 euros da conta, porque o gestor do banco conseguiu evitar que fossem feitos mais levantamentos.
Os crimes foram todos cometidos em 2019 e envolvem 29 arguidos, sete dos quais não compareceram em tribunal.
O julgamento prossegue esta tarde.