Criminosos levantam dinheiro em vez de fazer transferências. Queixas diminuíram muito mas desde janeiro foram registados 819 casos.
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As burlas com a aplicação MB Way - um sistema de pagamento e transferência de dinheiro que funciona através do telemóvel - explodiram durante a pandemia, mas estão agora em decréscimo. Os alertas à população e as detenções efetuadas pelas polícias contribuíram para a redução de casos, que passaram de perto de cinco mil inquéritos em 2020 para 819 desde janeiro até ao final do mês passado. Porém, já foram detetados grupos criminosos que aperfeiçoaram os métodos para iludir as polícias. Passaram a levantar em caixas multibanco o dinheiro das contas das vítimas. Assim, evitam fazer transferências para contas bancárias que acabavam por ser rastreadas pelas autoridades, conduzindo a identificação e detenção dos suspeitos.
A multiplicação das burlas com o sistema MB Way parece ter abrandado, após o pico de casos verificado durante os meses de confinamento. De acordo com dados fornecidos ao JN pela Procuradoria-Geral da República (PGR), em 2019, registaram-se 923 inquéritos que passaram para 4946 no ano seguinte, quando as pessoas estavam proibidas de sair de casa. Em 2021, chegaram ao Ministério Público (MP) 2766 investigações e este ano, até dia 31 de outubro, a PGR recebeu 819 inquéritos. O decréscimo é claro, mas a média ainda está perto de três casos diários.
Mais detenções
As dezenas de notícias e alertas sobre as burlas com MB Way tornou as pessoas mais atentas aos contos do vigário e a eficácia das polícias a neutralizar os pequenos grupos de criminosos também ajudou a esta redução. Mas os criminosos também adaptaram os seus métodos para evitarem ser apanhados.
"Num dos novos métodos mais frequentemente identificado, vendedores de produtos em plataformas online são abordados por telefone e, enganosamente, induzidos a facultar ao agente do crime os dados necessários ao levantamento, por via do MB Way, de quantias em máquinas ATM. Nas versões anteriores ocorriam mais frequentemente transferências bancárias", explicou ao JN a PGR. Adianta ainda que "este novo método deixa menos registos deste tipo de crimes no sistema bancário - embora origine outros registos que podem ser usados como prova, tais como os do sistema de videovigilância dos ATM".
Multiplicação
A mesma fonte admite que este método tem sido adotado "por múltiplos suspeitos que atuam sozinhos ou, nalgumas situações, em pequenos grupos familiares". Regra geral, os criminosos deslocam-se às ATM com uma máscara anticovid ou cachecóis para evitarem ser identificados.
Inicialmente, os burlões deixavam sempre o rasto das contas bancárias pelas quais faziam transitar o dinheiro das vítimas, mas hoje limitam-se a fazer levantamentos. Só conseguem levantar 400 euros por dia, mas correm menos riscos de serem apanhados.
MÉTODO
Criminosos procuram vítimas em anúncios
Através de simples contactos telefónicos, os criminosos convencem as vítimas a associar os seus cartões bancários a números de telemóvel que lhes fornecem, ficando com o controlo das contas e fazendo movimentos com efeitos imediatos e sem possibilidade de serem revertidos. Regra geral, as vítimas são contactadas após terem colocado um anúncio a publicitar a venda de bens ou a prestação de serviços. Por telefonema ou mensagem, os burlões dizem estar interessados no negócio e pedem à vítima para aceitar o pagamento através de MB Way. Dizem-lhe para se deslocar a uma ATM e levam-na a selecionar a opção MB Way e inserir um número de telemóvel e um código por eles indicados. Dizem que essa é a única forma de receberem o dinheiro na sua conta bancária. As vítima facultam assim total controlo das suas contas aos burlões.
PORMENORES
Alerta no OLX
Para evitar burlas, o site de anúncios OLX tem na sua página inicial um aviso para este tipo de crime.
Aplicação com aviso
A própria aplicação MB Way fornece avisos e enumera cautelas contra vigaristas. No ato de adesão a este serviço, o cliente é alertado para o perigo de associar à aplicação um número que não lhe pertença.
Penas até oito anos
O crime de burla informática tem uma moldura penal entre dois e oito anos de cadeia, se o valor for elevado. Se for considerado baixo, pode ir até cinco anos ou multa até 600 dias.