A Polícia Judiciária (PJ) está a realizar, esta quinta-feira, 34 buscas a empresas, entidades públicas e residências. Entre os visados está o consultor de comunicação Luís Bernardo, que é suspeito de ter concertado com outros visados propostas para concursos públicos para adjudicações de serviços de comunicação.
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Não estão previstas detenções nesta operação, denonimada "Concerto", que compreende buscas numa universidade, em câmaras municipais, numa junta de freguesia de Lisboa, além de serviços municipalizados, empresas municipais e a secretaria-geral do Ministério da Administração Interna.
Existem suspeitas de que, entre 2020 e 2024, empresas dominadas por Luís Bernardo mas também por outro consultor de comunicação, João Tocha, além de outros empresários, tenham acertado preços e serviços a apresentar às entidades públicas para ganhar sempre as adjudicações e concursos públicos. As autoridades acreditam que os suspeitos criaram um esquema de aparência de legalidade entre as empresas Wonder Level Partners (WLP), de Bernardo, a First Five Consulting, de João Tocha e ainda outras empresas.
Com uma alegada falsa aparência de concorrência, as empresas visadas garantiriam assim, à partida, quais seriam as empresas vencedoras e que preços as entidades públicas seriam levadas a pagar, depois das consultas ao mercado "viciadas".
Em causa estão crimes de corrupção passiva, corrupção ativa, prevaricação, participação económica em negócio, abuso de poderes por parte de titulares de cargos políticos e abuso de poder.
Empresa garante cooperação com as autoridades
A Wonderlevel Partners confirmou a realização de diligências, "no âmbito de um inquérito que está em fase de investigação" e garantiu que "está, naturalmente, a cooperar com as autoridades competentes".
A Unidade Nacional de Combate à Corrupção (UNCC) da PJ está a realizar dezenas de buscas que visam, por exemplo, a empresa Wonder Level Partners (WLP), de Luís Bernardo. Em análise está a forma como a entidade ganha contratos para liderar a comunicação de entidades públicas por ajuste direto ou consulta prévia, sendo que um dos casos em investigação diz respeito ao Tribunal Constitucional.
As buscas estão a decorrer em Lisboa, Oeiras, Mafra, Amadora, Alcácer do Sal, Seixal, Ourique, Portalegre, Sintra e Sesimbra.
"Em causa estão fortes suspeitas de favorecimento de empresas do setor da comunicação, publicidade, marketing digital e marketing político, por parte de diversas entidades públicas", precisa a PJ em comunicado.
O JN sabe que as empresas e os seus dirigentes estão a ser investigados há pelo menos um ano e meio e que as buscas desta quinta-feira "visam consolidar a indiciação de que, às empresas referenciadas pela investigação, terão sido adjudicados contratos, por ajuste direto ou por consulta prévia, em clara violação das regras aplicáveis à contratação pública, designadamente, dos princípios da concorrência e da prossecução do interesse público, causando elevado prejuízo ao Erário Público".
Na Operação "Concerto" estão envolvidos cerca de 150 elementos da Polícia Judiciária, entre inspetores e peritos da Unidade de Perícia Financeira e Contabilística e da Unidade de Perícia Tecnológica e Informática da PJ, além de oito Magistrados do Ministério Público do Departamento Central de Investigação e Ação Penal.
Luís Bernardo não desenvolve atividade apenas com entidades públicas, trabalha também com empresas do setor privado, incluindo no setor da comunicação social. Fê-lo com o grupo Global Media Group, detentor do JN, no breve período em que o grupo foi liderado por José Paulo Fafe.