Cabeleireira dos famosos afirma que evasão fiscal servia para ajudar funcionários
A cabeleireira Inês Pereira, suspeita de uma fraude fiscal de quase dois milhões de euros, confessou, esta quarta-feira, no Tribunal do Porto, ter conhecimento de que parte das suas receitas não era declarada à Autoridade Tributária.
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O objetivo era pagar aos trabalhadores dinheiro extra e livre de impostos, justificou Inês Pereira, antes de o marido, também arguido, assumir a responsabilidade pelo esquema de evasão fiscal que foi posto em prática em vários cabeleireiros do Porto.
Inês Pereira, os dois filhos, o ex-marido, as funcionárias e os alegados testas de ferro, num total de 12 arguidos, estão a responder por crimes de fraude fiscal e branqueamento de capitais, que terão lesado o Fisco em 1,8 milhões de euros e beneficiado, apenas, a cabeleireira e os seus familiares.
A sessão de julgamento desta quarta-feira ficou marcada pelas declarações de Inês Pereira, o seu ex-marido e uma filha.
Ao coletivo de juízes, Inês Pereira disse que sabia do dinheiro que entrava por fora, mas garantiu que “não beneficiava de nada” e que só percebeu “a gravidade da situação” aquando das buscas de que foi alvo, em dezembro de 2018, pela Direção de Finanças do Porto.
“Abusámos do Estado, mas foi em prol dos que trabalham comigo”, justificou a empresária. Os trabalhadores, segundo Inês Pereira, pediam para receber dinheiro por fora para não fazerem descontos. O objetivo era “ajudá-los”, insistiu.
No entanto, a arguida atribuiu a responsabilidade pelo esquema a Fernando Pereira. “Foi tudo tratado pelo meu ex-marido”, garantiu cabeleireira, dizendo que nada “entendia de contabilidade”.
“Fui eu que orquestrei este esquema”
Inês Pereira admitiu ainda que chegou a levantar envelopes com o dinheiro dos fechos do dia, mas disse que o fazia simplesmente “porque lá trabalhava” e que, depois, os entregava ao escritório, onde trabalhava o marido.
“A minha função foi criar uma empresa de marca de cabeleireiros e tratar da parte técnica, manual. O resto era o escritório”, garantiu.
Fernando Pereira corroborou esta versão. “ Fui eu que orquestrei este esquema dos envelopes”. Fazia-o, segundo garantiu aos juízes, para ajudar os colaboradores que “não queriam descontar dos 1500 euros que recebiam, pedindo para darmos por fora”.
Segundo a acusação, a empresa desligava os terminais de pagamento por Multibanco para obrigar os clientes a pagarem através de dinheiro vivo. Segundo o empresário, o seu filho Ricardo, também arguido, sabia do “esquema dos multibancos”, usado para a fuga ao Fisco, e terá avisado o pai que “iria dar barraca”.
Tanto Inês Pereira como o ex-marido afirmaram que “sistema de mercado é assim” e que só fizeram o que “muitas empresas fazem”.
A filha do casal também prestou declarações em audiência, para negar qualquer envolvimento no esquema. A arguida, Inês Catarina Pereira, sustentou que fazia o que lhe era pedido pelo pai.