Fuga aos impostos detetada pela GNR em apreensões desde 2018 já ultrapassa 900 milhões de euros. Além dos quatro cães, scanner ajuda a localizar contrabando e avaliar quantidade.
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Desmantelar redes de contrabando de tabaco em Portugal que, só desde 2018, já custaram aos cofres do Estado mais de 900 milhões de euros, vai ser mais fácil com o mais recente recrutamento da GNR. Quatro cães estão a ser treinados, desde fevereiro, para ajudarem na deteção de tabaco e deverão começar a fazer parte das operações da Unidade de Ação Fiscal (UAF) da GNR dentro de três meses. Desde o início do mês que um scanner portátil está também a ser usado para inspecionar locais suspeitos.
Demon, Góral e Sasa vieram da Polónia, e juntaram-se à Lusa, que já estava cá, para fazerem parte da nova especialização cinotécnica na GNR, a deteção de tabaco, que é "distintiva e pioneira em Portugal". Ontem, o JN pôde observar algumas das aptidões dos animais, que dentro de três meses estarão aptos a encontrar tabaco em contentores marítimos, bagagens e viaturas. O pastor holandês, o perdigueiro português e os dois pastores-belgas-malinois poderão ser disponibilizados a outras forças de segurança, como a Polícia Judiciária e as autoridades alfandegárias.
Além da "rapidez com que executam as tarefas", a sua eficiência resulta da "indiferença pelo ambiente em que operam" aliada à "capacidade olfativa que os diferencia dos demais animais", explicou o comandante-geral da GNR, tenente-general Rui Clero.
Falha colmatada
O major Gonçalo Brito, coordenador das equipas cinotécnicas, salientou que a "deteção de tabaco e de produtos de tabaco era uma falha que existia em termos nacionais e que agora será ultrapassada", tanto com os binómios cinotécnicos, como com os outros equipamentos cedidos à GNR. O scanner portátil, já a ser utilizado, deteta "diferentes volumetrias e concentrações" do tabaco existente e um outro aparelho permite perceber se o material é contrafeito.
Gustavo Pereira, da Unidade de Ação Fiscal da GNR, acredita que estes novos meios permitirão "uma deteção mais fácil e os números [de apreensões] irão subir com certeza". "Não ter binómios com capacidade de encontrar tabaco era uma das lacunas da GNR. É um ilícito que lesa o Estado em muitos milhões de euros", alertou.
A especialização resultou do acordo de doação - de cães, duas viaturas transformadas e equipamentos eletrónicos - entre a GNR e a Tabaqueira, assinado há um mês, no âmbito da colaboração de deteção de tabaco de contrabando e contrafação.
O diretor-geral da Tabaqueira, Marcelo Nico, disse sentir "uma grande satisfação em colaborar numa atividade pioneira em Portugal e que beneficia o país na luta contra o tráfico ilícito de tabaco".
Apreensões
44 milhões de cigarros apreendidos desde 2018 até maio deste ano pela UAF, a juntar a 52 toneladas de folha de tabaco, 13 toneladas de tabaco triturado e 20 104 cigarrilhas
228 milhões de euros em fuga aos impostos travada em operações contra o contrabando de tabaco só este ano, até maio.
11 toneladas de tabaco apreendidas só em junho, na Operação Tabaco Ibérico, em Portugal e Espanha, pela GNR e pela polícia espanhola, além de 90 mil cigarros já feitos em unidades artesanais no nosso país, numa investigação coordenada pela Europol.
364,2 milhões de cigarros apreendidos pela UAF da GNR nos últimos cinco anos.
759 autos levantados pela UAF da GNR, em que foram apreendidos cigarros já feitos e folha de tabaco em bruto.