Binómios cinotécnicos têm de superar avaliação da PSP para certificação. Na primeira prova, em 2018, chumbaram todos, hoje taxa de sucesso é grande.
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Vigiam empresas, complexos residenciais e fábricas desde 2013, mas só há quatro anos o Ministério da Administração Interna determinou que os binómios cinotécnicos (seguranças privados e cães) devem ser submetidos a exames, ministrados por especialistas da PSP. "É uma chancela de controlo de qualidade", explica ao JN Bruno Ratinho, Comissário do Grupo Operacional Cinotécnico da Unidade Especial de Polícia (UEP). Até agora já fizeram provas 79 equipas, das quais 20 foram certificadas e destas 17 estão ativas. O JN acompanhou quatro exames.
Harley entra no campo com um ar brincalhão e a língua de fora, mas não se distrai no percurso pelo qual está a ser avaliado. Encostado e sempre atento ao companheiro de trabalho, ultrapassa o primeiro desafio sem grandes dificuldades. O Spark, outro pastor-belga-malinois em avaliação, permanece deitado a 15 metros de distância. Se o Harley se distrair com a presença do Spark significa que não é obediente e o binómio pode ser penalizado. É a primeira prova prática: obediência. "Percebe-se que os estímulos estão controlados, há muitas horas de treino", comenta Bruno Ratinho, um dos elementos da Comissão de Avaliação.
Na segunda parte da prova simula-se um ambiente citadino, com um ciclista e pessoas a passarem, para se perceber o nível de socialização dos cães, que nunca podem constituir uma ameaça. Segue-se a prova de "vigia de suspeito", na qual Spark, Harley e Molly, o outro cão em avaliação, recebem uma ordem para vigiar um polícia à paisana. Devem aproximar-se e ladrar, mas sem lhe tocar. "É um estímulo bastante grande que está à frente do cão e o tratador tem de evidenciar grande controlo", explica Bruno Ratinho. A prova que não tem sido fácil para uma das equipas, que chumbou pela segunda vez.
No última avaliação os pastores-belga-malinois são sujeitos ao ruído extremo de três disparos com munição de salva e devem reagir naturalmente, ficando no mesmo sítio, desafio que também avalia o controlo do profissional sob o cão.
"Sucesso melhora"
Os cães de guarda começaram a ser usados como meios complementares na segurança privada sobretudo pelo seu efeito dissuasor. Trabalham, maioritamente, à noite e em instalações "onde não há pessoas", como o metro quando está fechado.
Bruno Ratinho diz que desde que são certificados houve "uma evolução grande" no desempenho das provas. "No primeiro exame que fizemos, em 2018, a taxa de sucesso foi zero, pois chumbaram todos. Hoje passaram três em quatro, a taxa de sucesso está a mudar completamente".
Exceções
Na segurança privada, os cães não podem trabalhar em espaços fechados acessíveis ao público, recintos desportivos e de espetáculos e divertimentos públicos e em ações de controlo de pessoas. É obrigatório usarem trela e açaime.
Previsto na lei
A utilização de cães na segurança privada está prevista na lei. Há quatro empresas do setor atualmente a trabalharem com binómios cinotécnicos.