Espaço existente na serra de Canedo é alvo de denúncias desde 2019 e enfrenta processo judicial. Autoridades recolheram animais após nova queixa.
Corpo do artigo
Nove animais maltratados foram ontem resgatados pela GNR e pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) de um canil ilegal em Canedo, Santa Maria da Feira. Dezenas de outros cães e gatos foram mantidos no espaço por falta de alternativas.
Não foi a primeira intervenção das autoridades naquele local, que tem sido alvo de denúncias desde 2019 e que, há dois anos, teve jaulas demolidas por ordem da autarquia. Mesmo assim, continuou a acolher animais.
Berta Brazão e Dick Leegwater, um neerlandês radicado há mais de uma década em Portugal, gerem o canil situado num terreno rodeado de altos eucaliptos e vegetação densa. Um cenário que faz temer um incêndio trágico como o que, em 2020, matou mais de 70 cães e gatos num espaço igualmente ilegal na serra da Agrela, em Santo Tirso.
Pelos caminhos de terra batida de Canedo andam dezenas de cães e alguns gatos recolhidos pelo casal. Alguns apresentam evidentes sinais de subnutrição e quase todos estão cobertos de pulgas.
Ao início da noite de ontem, nove cães foram recolhidos pelas autoridades, após a associação ComRaça - Equipa de Resgate Animal ter denunciado maus-tratos e mais de uma dezena dos seus voluntários se ter concentrado à entrada do terreno onde Berta Brazão e Dick Leegwater, sexagenários, vivem numa autocaravana.
Em 2019 albergava 150 cães
Para as dirigentes do PAN/Porto Cristina Santos e Manuela Carneiro, que também marcaram presença no local, o canil ilegal é, sobretudo, “um caso social que tem impacto no bem estar animal”.
Há muito que o casal e o canil estão sinalizados por diferentes entidades. Em julho de 2019, 150 cães foram retirados do terreno pela GNR, e o respetivo processo-crime, por maus-tratos, chega em breve a julgamento.
Na ocasião, a Câmara da Feira garantiu estar a acompanhar o caso, dizendo ser impossível legalizar a infraestrutura criada para acolher animais abandonados. Porém, um ano depois, cerca de 200 ativistas mobilizaram-se nas redes sociais e tentaram invadir o canil ilegal. A GNR travou-os, mas não os impediu de resgatar dali mais seis cães.
Em janeiro de 2022, a ComRaça encontrou sete cadáveres de cães, já em decomposição, numa casa desabitada que pertencia à mãe de Berta Brazão e, quatro meses mais tarde, iniciou-se a demolição de jaulas e outras estruturas do canil ilegal. A intervenção foi da autarquia, mas, soube-se ontem, não impediu o casal de voltar a acolher cães no terreno.
Ao JN, Dick Leegwater assegurou que o canil dispõe das “condições necessárias e que os animais ali acolhidos são felizes”.