O Range Rover conduzido pelo ator Ivo Lucas e onde seguia a namorada Sara Carreira, a 5 de dezembro de 2020, ficou sem a porta do passageiro, após ter colidido com o separador central, com o carro onde viajava a fadista Cristina Branco, ter capotado e ter sido vítima de mais um embate, quando ficou imobilizado na A1.
Corpo do artigo
A revelação foi feita por uma testemunha, ouvida na manhã desta quarta-feira, no Tribunal Judicial de Santarém.
Em resposta ao advogado do arguido Ivo Lucas, Marco Batista garantiu que o veículo acidentado “não tinha porta do passageiro”, quando ele e a namorada, Margarida Costa, chegaram ao local. Alertados pela sinalética na estrada a avisar que tinha ocorrido um acidente, as duas testemunhas observaram “muitos destroços” na estrada.
“O meu namorado travou a fundo, com medo de ter um acidente, mas conseguiu passar na faixa do meio”, assegurou Margarida Costa. “Vi um ou dois carros na berma do lado direito e um do lado esquerdo. O meu namorado disse que estava um rapaz em tronco nu [Ivo Lucas]”, relatou. Saiu do carro e foi ter com ele perto da berma, do lado direito. “Devido à minha experiência profissional, achei que podia ajudar”, justificou a médica veterinária.
Margarida Costa assegurou que o ator “estava instável e com uma fratura no braço”. Quando se dirigiu a ela e lhe perguntou pela namorada, a testemunha foi à procura de Sara, e pediu a uma senhora [assistente social ouvida esta terça-feira] para ficar com Ivo Lucas no carro. Quando se aproximou do veículo acidentado, encontrou a cantora pendurada pelo cinto, na zona da cintura. “O corpo estava do lado de fora, praticamente no chão”, explicou. “Como estava de branco, pensei que fosse uma almofada.”
“Não tinha pulso”
A médica veterinária referiu que, “praticamente ao mesmo tempo”, chegou um “senhor que era bombeiro”, a falar ao telefone com o 112, e seguiram as indicações que lhes iam sendo dadas. Margarida Costa descreveu a vítima e disse que “não tinha pulso”. Como quis confirmar na zona da carótida, foi-lhes dada autorização para cortar o cinto de segurança e o capuz da sweatshirt.
Depois de confirmarem que Sara já não respirava, aguardaram ao pé dela, que ficou de costas para cima, até chegar a ambulância. “Tinha estado a chover antes, mas quando parámos não estava a chover, nem estava nevoeiro. Estava frio”, garantiu a médica veterinária. A este respeito, a testemunha Paula Contreiras acrescentou que “não havia nevoeiro, mas havia muita água na estrada, e estava escuro”.
Depois de ter visto o alerta de acidente, Paula Contreiras passou por cima de “um grande volume”, disse que abrandou “ainda mais”, mas foi “obrigada a encostar à guia”, por trás de outro carro [Cristina Branco]. “Vi um primeiro carro parado, um jeep e uma carrinha, estacionada à minha frente, mas não consegui lá ir”, observou.
Ao contrário das testemunhas anteriores, Carolina, namorada do arguido Tiago Pacheco, referiu que “estava a chover muito e havia nevoeiro”. “Na altura do acidente, quase não havia visibilidade nenhuma”, afirmou. “Lembro-me de o carro começar aos solavancos e que tentei agarrar-me”, acrescentou, mas garantiu que não sentiu nenhum embate ou estrondo do lado esquerdo da viatura, apesar de os airbags se terem aberto. “O nosso carro estava a arder e senti-me bastante perdida.”
Arguidos
No âmbito deste processo, estão a ser julgados por homicídio por negligência Paulo Neves, por conduzir embriagado a cerca de 30 quilómetros por hora na A1, sem sinalizar a “marcha lenta”, e Cristina Branco por “não circular com a atenção devida”, pelo que não reduziu a velocidade ou ultrapassou o veículo de Paulo Neves, para evitar a colisão.
Ivo Lucas também é suspeito do mesmo crime, por circular na faixa central entre 139,1 e 131, 18 quilómetros por hora, e não ter reduzido a velocidade, nem travado, pelo que “colidiu contra a guarda central de segurança, embatendo no veículo de Cristina Branco”, o que levou Marisa Ginja, juíza do Tribunal Judicial de Santarém, que está a julgar este processo, a afirmar que “conduzia de forma desatenta”.
Tiago Pacheco é o quarto arguido, por conduzir na via central, circular a 150 quilómetros por hora, apesar de estar a chover e de ter passado por duas viaturas acidentadas, e não se ter desviado do veículo onde se encontravam Ivo Lucas e Sara Carreira.
O julgamento prossegue às 14 horas.