A Polícia Judiciária (PJ) de Setúbal deteve um casal por suspeita do homicídio de uma mulher de 98 anos. A vítima, mãe do detido, foi deixada à fome, amarrada a uma cama e com uma fratura antiga numa perna, em casa, em Setúbal.
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“A morte ocorreu num quadro de grande sofrimento e de falta de cuidados mínimos de higiene, alimentação e saúde, por omissão consciente por parte dos suspeitos”, informou ontem a PJ em comunicado.
O filho da nonagenária, de 60 anos, e a companheira, de 62, foram apresentados a um juiz e ficaram em prisão preventiva. O neto da vítima e filho do casal vivia na mesma casa, mas a investigação ilibou-o de responsabilidades, porque não passava quase tempo nenhum em casa e não era sobre ele que recaía o dever de cuidar da vítima.
As autoridades depararam-se com um cenário macabro faz hoje uma semana. Foi o homem suspeito que chamou a emergência médica à casa onde vivia com a mãe e a companheira, no 3.º andar do n.º 6 da Rua das Giestas, no Bairro da Camarinha. A PSP, perante o cadáver da vítima, com diversos hematomas, e marcas de sangue nas paredes da casa, acionou a Judiciária de Setúbal.
Autópsia confirmou suspeitas
Às autoridades, o homem contou que tinha saído de manhã para trabalhar e regressado perto das 15 horas, quando deu o alerta. Nessa quinta-feira, nem ele nem a companheira foram detidos. Foram ambos ouvidos pelos inspetores da PJ, mas negaram ser responsáveis pelo estado em que a idosa morreu.
A PJ optou então por aguardar pelo resultado da autópsia médico-legal. Esta foi realizada no fim de semana e, segundo a Polícia, “determinou que a vítima, demente e totalmente dependente, viveu, ao longo dos últimos meses, com a cabeça do fémur partida, acamada, sem que os seus familiares ‘cuidadores’ se preocupassem com o seu bem-estar, deixando-a de forma deliberada à sua sorte, cuja consequência foi a morte”.
A vítima emigrou para a Venezuela na década de 1960. Em 2018, fruto da crise naquele país, voltou para Portugal sem dinheiro nem rendimentos, passando a viver na casa do filho, com a nora e o neto.
A vizinhança nada saberia do que se passava na casa onde a idosa faleceu. O vizinho do andar de baixo disse ao JN desconhecer até quem vivia por cima, mas ouvia os residentes a falar alto durante a noite. “A televisão era deixada num volume tão elevado, que a ouvia no meu quarto. Pensava que morava lá alguém com dificuldades auditivas, mas nada de mais”, contou.