Brasileiros detidos pelo SEF usavam tecnologia de ponta para criar passaportes e cartões de cidadão. Vendidos por 10 mil euros na Dark Web.
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Montaram uma autêntica fábrica de documentos falsos em Lisboa, de onde enviavam passaportes, cartas de condução e cartões de cidadão, por preços de 10 mil euros, na chamada "Dark Web" - uma parte obscura e sem controlo da Internet. Mas o casal de brasileiros, de 30 anos, que se instalou em Portugal no final do ano passado, foi detido pelo SEF. Na semana passada, os inspetores intercetaram 150 documentos, que os falsificadores tinham enviado pelo correio a clientes de todo o Mundo. Os destinatários seriam, essencialmente, redes de imigração ilegal. Já estão em prisão preventiva.
De acordo com informações recolhidas pelo JN, o casal viveu no Reino Unido antes de se instalar em Lisboa. Ao que tudo indica, marido e mulher perceberam que estavam a ser alvo de uma investigação naquele país, onde as autoridades já tinha suspeitas de lidarem com falsificadores de nível internacional. Só que as autoridades britânicas informaram o SEF quando perceberam que o casal tinha viajado para Portugal.
"A rede, agora desmantelada em Portugal, circulava por vários países europeus e da América do Sul, movimentava significativas quantias de dinheiro, sob a forma de criptomoedas [bitcoins], o que lhes permitia, além do avultado lucro, obter tecnologia de ponta para a elaboração de milhares de documentos falsos de elevada qualidade", adiantou o SEF.
Elevada qualidade
Considerado agora um dos maiores peritos em falsificação de que há memória, o indivíduo comprou material informático e tecnologia de ponta para conseguir produzir a documentação.
A diretora nacional do SEF, Cristina Gatões, explicou que os documentos falsificados são "de elevada qualidade" e que "passam facilmente por qualquer entidade privada ou pública". Entre os documentos falsos apreendidos estão passaportes, cartas de condução, títulos de residência e cartões de cidadão. Foram igualmente apreendidos computadores, impressoras de alta qualidade, incluindo impressoras 3D, bem como elementos de segurança utilizados no fabrico de documentos adquiridos através da Dark Web.
O indivíduo publicitava os seu serviços através deste lado obscuro da Internet e era contactado pelos clientes pela mesma via.
Depois de receber as encomendas, produzia os documentos e recebia os 10 mil euros em bitcoins. Restava enviar os documentos aos clientes que os recebiam comodamente em casa, através do correio.
A investigação, que reuniu autoridades do Brasil, Espanha, França e Reino Unido, além da Europol e Interpol, vai continuar para poder identificar todos os clientes do casal agora detido pelo SEF.
Nacionalidade portuguesa foi forjada
O casal tem nacionalidade portuguesa. Obtiveram-na através de um processo de naturalização no qual foi alegado que o pai do indivíduo era português. Mas as primeiras conclusões da investigação do SEF já permitiram estabelecer que o falsificador forjou uma certidão de nascimento para obter fraudulentamente a nacionalidade portuguesa. Todos os documentos do indivíduo e da companheira serão agora passados a pente fino para aferir de outras eventuais ilegalidades e fraudes.
Pormenores
Contas bancárias
O casal não teria qualquer conta bancária em Portugal. Usariam dinheiro vivo e transferências para pagar as despesas. O material tecnológico usado para as falsificações era comprado na Dark Web em criptomoeda.
Certidões e cartões
Além dos documentos de identificação e das certidões, o casal também estava na posse de cartões bancários, aparentemente fraudulentos.
Produção contínua
Foram apreendidos computadores da "mais moderna tecnologia que permitia uma produção contínua", explicou o SEF.