
Os inspetores da PJ foram à aldeia de Penafria para deter o casal
Eduardo Pinto/JN
Marido e mulher de Carrazeda de Ansiães foram detidos pela Polícia Judiciária do Porto.
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Um casal residente na aldeia de Penafria, em Carrazeda de Ansiães, foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) por suspeitas de ter, durante três anos, mantido como escravo um homem. A vítima, de 66 anos, que guardava cabras, padece, desde criança, de atraso cognitivo, sofre de cancro e não tem qualquer resguardo familiar.
De acordo com a PJ, os suspeitos têm 40 e 43 anos, e estão fortemente indiciados pela prática de um crime de "tráfico de pessoas para exploração laboral". Já foram sujeitos a primeiro interrogatório judicial e ficaram "proibidos de contactar ou de aproximar-se da vítima", que foi colocada numa "instituição de acolhimento para pessoas vítimas deste tipo de crime". O homem chegou a estar institucionalizado em Carrazeda de Ansiães, mas terá sido convencido pelo casal a sair para trabalhar. Aceitou porque não queria viver na instituição social.
A PJ revela que, "desde meados de junho de 2017 até à atualidade, a vítima pastoreou os animais sem direito a retribuição" monetária. Pelo contrário, recebia uma reforma de invalidez mensal de cerca de 500 euros, da qual o casal se apoderava.
Segundo a Judiciária, a alimentação era "claramente pobre e insuficiente para o dia de trabalho", pois "recebia comida em más condições uma vez por dia". Era-lhe fornecido pão e pouco mais. Para se alimentar melhor, o pastor tinha de beber leite diretamente das tetas das cabras, comer a fruta que encontrava nos pomares e beber água nos regatos.
Desde maio de 2019, o casal de suspeitos mantinha arrendado um espaço de arrumos, num campo agrícola próximo da aldeia, que "não dispunha de água, luz e quaisquer condições de higiene e salubridade". Era lá que "a vítima vivia em permanência, acompanhado de animais". Durante um ano e meio não trocou de roupa nem tomou banho.
Na Penafria, onde vivem pouco mais de 30 pessoas, o JN ouviu populares admitirem que "o pastor poderia ter condições deficientes de alojamento", mas ninguém diz ter conhecimento de que o homem passasse fome ou da alegada situação de escravatura.
Ao JN, o detido não quis comentar as suspeitas.
Denúncia
O caso chegou ao conhecimento das autoridades depois de os suspeitos terem vendido uma cabra a outro casal, que viu as condições em que a vítima vivia e denunciou o aproveitamento por parte dos detidos.
Sem tratamento
Durante o período de cativeiro, o homem não foi submetido a qualquer tratamento por causa da doença oncológica de que padece. Razão pela qual está hoje ainda mais debilitado pela evolução do cancro.
