Chefe de acólitos leva pena suspensa por crimes sexuais contra menina de 14 anos
Homem casado seduziu aluna da catequese, pediu-lhe fotos sem roupa e levou-a para o monte. Só foi suspenso de funções, em paróquia de Felgueiras, após a sentença proferida na terça-feira.
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O chefe do Corpo de Acólitos da igreja de uma paróquia de Felgueiras foi condenado, esta semana, numa pena de prisão de dois anos e oito meses, suspensa na sua execução, por crimes de coação e de importunação sexual agravados e de pornografia de menores agravado (este na forma tentada). A vítima foi uma menor de 14 anos, que frequentava a catequese na mesma freguesia, mas o arguido só foi suspenso de funções por força da sentença proferida pelo Tribunal de Penafiel na terça-feira.
Os factos levados a julgamento desenrolaram-se a partir do início de 2018, quando o homem, hoje com 42 anos, enviou à menor um pedido de amizade no Facebook. O pedido foi aceite, por ambos já se conhecerem "de vista". Frequentavam a mesma igreja, ele como chefe dos acólitos, ela como aluna da catequese.
Recebeu foto em biquíni
Depois daquele primeiro contacto virtual, o homem - casado e com dois filhos, um deles menor - começou a enviar mensagens à jovem, chegando a aliciá-la a praticar atos sexuais. Segundo o acórdão, a partir de setembro de 2018, o chefe dos acólitos disse-lhe que não era feliz com a mulher e que, se pudesse, fugia com a menor, dando-lhe "a esperança" de um relacionamento amoroso.
Aproveitando-se do facto de a jovem ter começado a nutrir sentimentos por si, o homem convenceu-a a integrar o grupo de acólitos que chefiava e pediu-lhe que lhe enviasse fotos suas nua. Ela não acedeu, enviando-lhe, ainda assim, uma fotografia sua em biquíni. Depois, num encontro que tiveram numa zona de monte, isolada, o homem beijou a adolescente na boca e apalpou-a, tentando que esta lhe fizesse o mesmo. Perante a recusa da menor, que disse que só tinha ido ali "para conversar", o homem ficou "desagradado", tendo ambos abandonado o local.
Temeu "ir parar à cadeia"
O caso seria descoberto em 2019, quando a mãe da menor viu as mensagens e confrontou o chefe dos acólitos. Aí, o homem pediu à jovem para apagar as mensagens que trocavam, porque podia "ir parar à cadeia". Contudo, as mesmas foram lidas pelo pai da menina, que denunciou o caso às autoridades.
Quando soube disso, a menina fechou-se no quarto e tentou cortar os pulsos. Foi levada para o hospital.
Já em julgamento, o tribunal deu por provado que o arguido cometeu os crimes de que vinha acusado. A exceção foi o de abuso sexual, não obstante se terem provado o beijo e os apalpões referidos.
Sabendo que a menor desenvolveu sentimentos por si, o arguido alimentou-os, "criando a expectativa e o sentimento de que iam ter uma relação amorosa duradoura", lê-se na sentença. Para a convicção do tribunal sobre a culpa do arguido contribuiu o depoimento da menor, como também declarações do próprio, embora este, ao longo do julgamento, só tenha admitido factos sustentados por provas físicas, como as mensagens. "Negou tudo aquilo que não tinha documento de prova", lamentou o presidente do coletivo de juízes que julgou o caso.
Após a queixa, o homem continuou a prestar serviços na paróquia. Só na última terça-feira, por força da sentença judicial, foi suspenso de funções. O tribunal proibiu-o ainda de acompanhar e coordenar qualquer grupo de jovens, em qualquer paróquia.
Diocese do Porto só teve conhecimento após condenação
A diocese do Porto, liderada pelo bispo D. Manuel Linda, garante que "não teve qualquer conhecimento" do caso, "antes de ser pública a referida condenação", e que "a pessoa condenada está suspensa das suas funções na paróquia". "A diocese, como é seu dever, procederá, segundo as normas canónicas e as mais recentes orientações da Conferência Episcopal Portuguesa, às investigações sobre a veracidade e os aspetos menos claros deste caso, para uma decisão transparente, justa e clara", afirma a diocese, em resposta ao JN. Esclareceu ainda que o pároco da freguesia em causa só teve conhecimento do caso após a denúncia feita pelos pais da menor.
Saiba mais
Ajudava à missa há 30 anos
Ligado há mais de 30 anos ao Corpo de Acólitos, o arguido prestava auxílio durante a missa e noutras celebrações religiosas. Enquanto chefe, acompanhava os mais jovens no desempenho de tais funções.
Acompanhamento psicológico
O tribunal deu total credibilidade aos depoimentos da vítima, que caracterizou como uma jovem insegura, com sentimentos de solidão. Após os crimes, a vítima recebeu acompanhamento psicológico.
7 mil euros de indemnização
Os pais da menor pediram 20 mil euros de indemnização, mas o tribunal condenou o arguido a pagar apenas sete mil.