Cocaína adulterada com substância cancerígena faz disparar lucro de traficantes
Toxicodependentes estão a usar cocaína “traçada” com fenacetina, substância altamente cancerígena banida pela Organização Mundial de Saúde. Técnicos já estão a sinalizar casos de cancro.
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Os toxicodependentes chamam-lhe droga “Euromilhões”, mas a sorte é toda dos traficantes que, ao misturarem a cocaína com fenacetina, uma substância de corte muito mais barata, aumentam, e muito, o lucro. Para os consumidores sobram as dores de cabeça, a diarreia, a incontinência e, sobretudo, uma alta probabilidade de ficarem cancerosos. Desde 2020, só os técnicos da Arrimo, associação que apoia toxicodependentes da zona oriental da cidade do Porto, identificaram três casos de cancro. Dois deles terminaram em morte, provavelmente por causa de um analgésico que a Organização Mundial de Saúde propôs que, há muito, fosse retirado do mercado.
O caminho em terra batida, em Campanhã, tem, de um lado, um campo de futebol de relva artificialmente verde, do outro, a Piscina Municipal de Cartes, e dá acesso à “Casa Velha”. Ali, nas imediações do bairro do Cerco do Porto, entre paredes tortas pela idade e onde os tetos há muito caíram, deambula mais de uma dezena de toxicodependentes. A tarde nem sequer vai a meio e ninguém se incomoda com o cheiro nauseabundo vindo dos montes de lixo, dos dejetos, da urina. Todos querem apenas “dar no caneco”.