Coletivo de defesa do Rio Ferreira aplaude buscas "para a culpa não morrer solteira"
O movimento "Mataram o Rio Ferreira" espera que as buscas esta sexta-feira em curso na Câmara Municipal de Paços de Ferreira e noutros alvos localizados em sete comarcas do país, na investigação sobre o crime de poluição no Rio Ferreira, ajudem a pôr termo à poluição que afeta o curso de água que desagua no Rio Sousa.
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"Tudo o que está a acontecer no dia de hoje prova que as nossas queixas têm fundamento. É importante perceber o que é que aconteceu aqui, ao longo destes anos, e por que é que o Rio Ferreira está na situação em que está. Que se faça justiça, para a culpa não morrer solteira!", apela, ao JN a porta-voz do movimento "Mataram o Rio Ferreira", Nadine Gonçalves.
Esta munícipe de Paredes recorda que os constantes despejos de águas residuais, além de dizimarem o ecossistema e porem em risco a saúde das populações locais, transformaram o Rio Ferreira num reservatório de esgotos a céu aberto.
"O Rio Ferreira sofre há décadas com o mau funcionamento da Estação de Tratamento de Águas Residuais [ETAR] de Arreigada. A questão é que, desde que se fez uma obra de requalificação, em 2018/2019, com fundos europeus, o rio tem sofrido cada vez mais, com as descargas sem tratamento a serem contínuas", protesta Nadine Gonçalves, alegando que aquela ETAR ainda não tem licença para descarrregar efluentes.
O Rio Ferreira nasce em Paços de Ferreira, evolui para os concelhos de Paredes e Valongo e desagua no de Gondomar, no Rio Sousa, que depois segue até ao Rio Douro. Apesar desta amplitude de territórios afetados pelas águas residuais de Paços de Ferreira, o silêncio dos organismos ambientais e outras entidades envolvidas, em especial autarquias, tem sido "ensurdecedor", critica Nadine Gonçalves.
"Só [a Junta de Freguesia de] Lordelo, em Paredes, se moveu em peso, porque estava a sofrer na pele, apesar de o problema chegar aos outros concelhos", ressalva a moradora daquela freguesia, esperando que este processo-crime que veio a público esta sexta-feira ajude, definitivamente, "a apurar responsabilidades". "Porque isto não é, de todo, aceitável".
O problema tem merecido a atenção de alguns responsáveis políticos. Luís Montenegro, esta semana indigitado primeiro-ministro, escutou as queixas do coletivo "Mataram o Rio Ferreira" em outubro do ano passado.
Buscas em sete comarcas envolvem 119 operacionais
Esta sexta-feira de manhã, cerca de 100 militares da GNR e 19 inspetores da Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), bem como o magistrado do MInistério Público titular do inquérito, executaram 11 mandados de buscas domiciliárias e nove não domiciliárias, designadamente na Câmara de Paços de Ferreira e na casa do seu presidente, Humberto Brito, situadas na comarca de Porto Este, e ainda sobre alvos localizados nas comarcas de Porto, Braga, Coimbra, Guarda, Leiria e Lisboa. Parte das buscas foi feita em empresas e envolveu pesquisas informáticas e apreensões, informou, esta manhã, a Procuradoria-Geral Distrital do Porto, do Ministério Público.
Em comunicado, a mesma fonte informou que o inquérito criminal já foi iniciado há cerca de três anos e prometeu que "posteriores informações, se oportunas, serão prestadas pelo Gabinete de Imprensa da Procuradoria Geral da República ou pela Procuradoria-Geral Regional do Porto".