A sazonalidade das colheitas agrícolas, que potencia a deslocação dentro do país dos trabalhadores imigrantes explorados por redes criminosas, dificulta a investigação do fenómeno por parte da Polícia Judiciária (PJ), mas não trava a existência, “mais tarde ou mais cedo”, de detenções de suspeitos.
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Esta quarta-feira, foram apresentados a tribunal os 28 cidadãos portugueses e estrangeiros detidos na terça-feira, nos concelhos de Cuba e Ferreira do Alentejo, por terem, alegadamente, explorado e maltratado mais de cem imigrantes da Roménia, Moldávia, Ucrânia, Índia, Senegal e Paquistão. Estão indiciados, entre outros crimes, por associação criminosa e tráfico de pessoas.
“[A sazonalidade] prejudica sobretudo do ponto de vista do testemunho das vítimas, porque podemos estar a trabalhar o fenómeno e, depois, as pessoas mudam e isso implica voltar um bocadinho ao início”, referiu na terça-feira em conferência de imprensa, em Lisboa, a diretora da Unidade Nacional de Contraterrorismo da PJ, Manuela Santos.
Já a “estrutura criminosa” mantém-se “quase sempre” e “adapta-se às próprias culturas que são mais vantajosas em certas alturas do ano”. Atualmente, está a decorrer a apanha da azeitona.
“Sim, a instabilidade do negócio também pode ser um fator que prejudique a investigação, mas não é por isso que nós, mais tarde ou mais cedo, não avancemos para as detenções”, frisou a dirigente da PJ.
A operação de terça-feira, denominada Espelho, aconteceu um ano depois de outra semelhante, com 35 detidos, igualmente no distrito de Beja e sem relação com a atual.
Líder entre os detidos
Entre os 28 detidos na ação desta semana, está, apurou o JN, um português apontado como líder do grupo, cujo “núcleo duro” seria formado por estrangeiros com ligações à Europa de Leste.
No total, foram detidos 20 homens e oito mulheres, identificados hoje por juízes de instrução de Évora e de Cuba, onde correm os dois inquéritos do Ministério Público na origem desta operação.
Esta noite, vão pernoitar em várias prisões de Lisboa e do Alentejo e amanhã, quinta-feira, continuam a ser interrogados nos tribunais de Beja e Évora, para eventual aplicação das medida de coação.
Prazos
Investigação que originou ação em 2022 perto do fim
A investigação que, há cerca de um ano, deu origem a uma operação similar nos concelhos de Serpa, Beja, Cuba e Ferreira do Alentejo, com 35 detidos, “está prestes a ser concluída” pela Polícia Judiciária, garantiu, na terça-feira, a diretora da Unidade Nacional de Contraterrorismo, Manuela Santos. A maioria dos arguidos está em prisão preventiva desde 26 de novembro de 2022 e, se o Ministério Público não proferir acusação nos próximos dias, terá de ser libertada, por ter passado um ano desde o início da sua reclusão.